Na
década de 90, numa madrugada álgida de solidão e desânimo, este jovem pôs termo
à vida. Ainda não tinha atingido os trinta anos e adorava fazer de “advogado do
diabo”, contestando tudo.
Os
motivos que o levaram a atitude tão drástica talvez os tenha revelado nas
cartas que deixou à família e aos amigos mas os tribunais decidiram colocá-las
em “segredo de Justiça” e a história parece terminar assim.
Recentemente,
por intermédio de uma amiga comum, tive acesso a alguns escritos de sua
autoria.
Transcrevo-os
com o objetivo de tentar perceber o mistério da sua vida e do desenlace dela.
Eis
o 1º:
ONTEM
“O
ontem já lá vai…
…não,
o ontem ainda está comigo.
Eu
nada mais sou do que muitos ontens. Muitos ontens que passaram.
Outros
passaram eles por mim.
Que
seria de mim sem o ontem?
Eu
não existiria.
Eu
sou filho de um dos outros que passaram.
Mas…
por que é que o ontem é tão humilde porque se deixar ele passar pelo hoje, ele
não se vai mas também não fica…
O
primeiro ontem deixou-se passar por muitos outros.
Já
não o vislumbro.
Está
lá longe, no fim da fila.
Está
pegado a mim mas não me toca.
Não
foi ele que se distanciou de mim.
Fui
eu que me distanciei dele.
Fui
eu que continuei a andar.
Ele
parou no tempo.
E
eu…
eu
continuei a andar, a andar…
…
Mas vejamos…
A
realidade é mesmo assim.,
pois…
mas também por que ser tão objetivo?
O
primeiro ontem, antes de o ser antes de existir, foi o meu primeiro hoje.
Foi
o meu primeiro Amanhã.
Na próxima semana,
publicarei o segundo texto de Alberto. Talvez se possa compreender porque tão
jovem, se fartou dos seus “ontens”.
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