Se
acredito em milagres?
Um
episódio que se passou comigo leva-me a ficar indecisa, a desprezar fantasias e
“varinhas mágicas” de histórias de encantar ou fábulas. O que se passou,
envolto na neblina do mistério, irá permanecer assim, na égide de Deus, do
conhecimento que ele tem do meu ser e do meu destino, lembrando-me que eu sou
importante para os seus desígnios.
Era
o tempo de uma daquelas crises em que se passa fome devido à conjuntura
sócio-económica.
Acompanhada
da minha filha mais velha, saímos para a rua sem motivo óbvio.
O
instinto de respirar ar puro e conversarmos sobre o presente, levou-nos a uma
planície, forrada de algum arvoredo.
Quando
nos cansámos de andar, procurámos o apeadeiro próximo servido por uma linha
férrea e um banco tosco. A uns metros de distância, existia uma degradada
construção de madeira que, julgámos servir de “toilette”.
Não
havia ninguém nas redondezas. Sentámo-nos no único banco de pedra, frente à
linha do comboio e ficámos a conversar, ouvindo de vez em quando um trinado ou
um rechinar de cigarra.
A
certa altura, o Alfa apitou e passou sem parar.
Mal
a folhagem tinha assentado na plataforma arenosa, um outro apito perfurou o
silêncio. Era um suburbano, arquejando ronceiramente. Quando chegou ao apeadeiro,
as suas cartilagens guincharam e imobilizou-se. Reparámos que não tinha descido
ninguém. Nem, naquele espaço de espera, sequer um viajante aparecera para
continuar o trajeto.
A
composição arrancou e desapareceu no túnel.
-
É melhor irmos. A noite não tarda.
Minha
filha suspirou, desalentada.
-
Confia no Senhor! – continuei - Ele não deixou de gostar de nós.
Uma
lágrima rebentou. Foi quando olhámos para a ponta do banco e vimos um cesto de
vime. Entreolhámo-nos, surpreendidas, um tanto confusas.
-
Alguém desceu da carruagem sem que déssemos conta.
-
Mas como deixou o cesto sem que víssemos?
-
Terá ido àquela barraca? Estará lá dentro?
Olhávamos
em redor, olhávamos para o cesto. Não nos atrevíamos a tocar-lhe. Tínhamos
esquecido a fome. O medo do amanhã Tinha sido posto de lado.
-
Que fazemos, se ninguém aparecer?
-
O Senhor nos orientará.
A
solidão era absoluta. Entretanto, a tarde escurecera por completo O sino, na
torre de uma igreja algures, badalou as dez horas, sinal de que os comboios
regionais não voltariam a passar tão cedo.
À
fraca luz de uma lanterna, aproximei-me da improvisada “casa de banho” e
exclamei:
-
Está aí alguém?
Nenhuma
resposta.
Receosas,
resolvemos abrir o cesto e pasmaram os nossos olhos. O cesto estava repleto da
mais resplandecente fruta que poderíamos imaginar: maçãs, laranjas e uvas.
Nenhum nome que identificasse a proveniência.
As
nossas lágrimas eram tão suaves que deviam sorrir. A nossa gratidão não
concebia limites.
O
cesto foi envernizado e ainda hoje permanece no lugar mais alto da casa.
Consideramo-lo o objeto mais precioso dos nossos pertences.
Não
sei nem o Senhor por certo deseja, que se saiba o que na realidade aconteceu. O
mistério é insondável como o são os seus desígnios.
O
facto confirmou a sua vontade compassiva e a certeza de que lhe merecemos
atenção. Em circunstância alguma, devemos duvidar do seu auxílio, demore o
tempo que demorar.
E
foi por este e outros acontecimentos que eu aprendi a ver os sinais com que Deus nos orienta para
não fraquejarmos na nossa fé.
Se
acredito em milagres?
Acredito
em Deus.
Em
consequência, tudo o que Ele fez e faz , são milagres.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Violar os Direitos de Autor é crime de acordo com a lei 9610/98 e está previsto pelo artigo 184 do Código Penal.
Por isso NÃO COPIE nenhum artigo deste blogue ou parte dele, sem dar os devidos créditos da autoria e sem colocar o link da postagem.
Muito obrigada!