segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Cesto da Fruta


Se acredito em milagres?

Um episódio que se passou comigo leva-me a ficar indecisa, a desprezar fantasias e “varinhas mágicas” de histórias de encantar ou fábulas. O que se passou, envolto na neblina do mistério, irá permanecer assim, na égide de Deus, do conhecimento que ele tem do meu ser e do meu destino, lembrando-me que eu sou importante para os seus desígnios.

Era o tempo de uma daquelas crises em que se passa fome devido à conjuntura sócio-económica.
Acompanhada da minha filha mais velha, saímos para a rua sem motivo óbvio.
O instinto de respirar ar puro e conversarmos sobre o presente, levou-nos a uma planície, forrada de algum arvoredo.
Quando nos cansámos de andar, procurámos o apeadeiro próximo servido por uma linha férrea e um banco tosco. A uns metros de distância, existia uma degradada construção de madeira que, julgámos servir de “toilette”.
Não havia ninguém nas redondezas. Sentámo-nos no único banco de pedra, frente à linha do comboio e ficámos a conversar, ouvindo de vez em quando um trinado ou um rechinar de cigarra.
A certa altura, o Alfa apitou e passou sem parar.
Mal a folhagem tinha assentado na plataforma arenosa, um outro apito perfurou o silêncio. Era um suburbano, arquejando ronceiramente. Quando chegou ao apeadeiro, as suas cartilagens guincharam e imobilizou-se. Reparámos que não tinha descido ninguém. Nem, naquele espaço de espera, sequer um viajante aparecera para continuar o trajeto.
A composição arrancou e desapareceu no túnel.
- É melhor irmos. A noite não tarda.
Minha filha suspirou, desalentada.
- Confia no Senhor! – continuei - Ele não deixou de gostar de nós.
Uma lágrima rebentou. Foi quando olhámos para a ponta do banco e vimos um cesto de vime. Entreolhámo-nos, surpreendidas, um tanto confusas.
- Alguém desceu da carruagem sem que déssemos conta.
- Mas como deixou o cesto sem que víssemos?
- Terá ido àquela barraca? Estará lá dentro?
Olhávamos em redor, olhávamos para o cesto. Não nos atrevíamos a tocar-lhe. Tínhamos esquecido a fome. O medo do amanhã Tinha sido posto de lado.
- Que fazemos, se ninguém aparecer?
- O Senhor nos orientará.
A solidão era absoluta. Entretanto, a tarde escurecera por completo O sino, na torre de uma igreja algures, badalou as dez horas, sinal de que os comboios regionais não voltariam a passar tão cedo.
À fraca luz de uma lanterna, aproximei-me da improvisada “casa de banho” e exclamei:
- Está aí alguém?
Nenhuma resposta.
Receosas, resolvemos abrir o cesto e pasmaram os nossos olhos. O cesto estava repleto da mais resplandecente fruta que poderíamos imaginar: maçãs, laranjas e uvas. Nenhum nome que identificasse a proveniência.
As nossas lágrimas eram tão suaves que deviam sorrir. A nossa gratidão não concebia limites.
O cesto foi envernizado e ainda hoje permanece no lugar mais alto da casa. Consideramo-lo o objeto mais precioso dos nossos pertences.
Não sei nem o Senhor por certo deseja, que se saiba o que na realidade aconteceu. O mistério é insondável como o são os seus desígnios.
O facto confirmou a sua vontade compassiva e a certeza de que lhe merecemos atenção. Em circunstância alguma, devemos duvidar do seu auxílio, demore o tempo que demorar.
E foi por este e outros acontecimentos que eu aprendi a ver os sinais com que Deus nos orienta para não fraquejarmos na nossa fé.

Se acredito em milagres?
Acredito em Deus.
Em consequência, tudo o que Ele fez e faz , são milagres.

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