sábado, 11 de maio de 2013

CARLOS MANUEL


17 de Maio de 1963 – 20 de Abril de 2013

As minhas palavras não são um adeus porque terás sempre um lugar na minha memória e no meu coração.
No meu coração porque aprendi a reconhecer os teus ideais e os teus objetivos através das nossas muitas conversas que punham em relevo o quilate da tua alma. Na minha memória, porque, pelo diafragma da minha introspeção, te evocarei em todas as circunstâncias imperativas do teu caráter.
Os teus defeitos – quem os não tem? – eram, são hoje, por certo, desculpáveis, ao sublinharmos a maneira elegante como demonstravas as tuas virtudes.
Amigo, a vida pode te ter oferecido muitas alegrias e muitos bons momentos, pode até ter posto na tua frente o caminho da tua realização, mas foi para ti profundamente adversa, não só por te ter escravizado o coração, já de si frágil, como te ter rodeado de ameaças desprezando a tua estrutura emocional.
Foste um homem sedutor; um trabalhador incansável e tinhas plena consciência desses atributos.
A foice macabra ceifou, cerces, os teus alicerces com a vida. A tua passagem foi curta. E o vazio que deixas é um abismo… como o são todos vácuos silenciosos, tenebrosos dos que partem, fazendo falta.

Não te digo adeus. Apenas, foste na frente.
Quanto a mim, com todas as recordações vivas que deixaste, acrescento as palavras que escolhi para honrar a tua figura bonita e o teu temperamento especial, as palavras que dedicaram a Che Guevara, como tu, lutador, defensor das injustiças, resistente no trabalho árduo e na doença e, como ele, desaparecido em condições por esclarecer.

Não sabemos, Amigo, para onde foste. Mas onde quer que estejas, estás, por certo, em paz.


Talvez o Che tenha sido o primeiro a compreender
que não se pode mudar o mundo
sem mudar o ritmo da sua relação com ele.


Por isso quando lhe disseram que a mãe tinha morrido
(andava ele no Congo
naquele ano em que esteve em parte nenhuma)
pediu um mat sem açúcar,
falou da infância
e depois afastou-se lentamente
para cantar sozinho os tangos argentinos
que eram por certo os ritmos do seu sangue


Ele sabia que era preciso o inesperado. O efeito
surpresa. Ataque e fuga.
Por exemplo, quebrar a rotina. Despedir-se.
Desaparecer.
Criar um foco algures dentro de nós.
Partir de um centro para uma espécie de irradiação.


(poema de Manuel Alegre, do livro CHE, de 5 e 6 de Abril de 1996)


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