17
de Maio de 1963 – 20 de Abril de 2013
As
minhas palavras não são um adeus
porque terás sempre um lugar na minha memória e no meu coração.
No
meu coração porque aprendi a reconhecer os teus ideais e os teus objetivos
através das nossas muitas conversas que punham em relevo o quilate da tua alma.
Na minha memória, porque, pelo diafragma da minha introspeção, te evocarei em
todas as circunstâncias imperativas do teu caráter.
Os
teus defeitos – quem os não tem? – eram, são hoje, por certo, desculpáveis, ao
sublinharmos a maneira elegante como demonstravas as tuas virtudes.
Amigo,
a vida pode te ter oferecido muitas alegrias e muitos bons momentos, pode até
ter posto na tua frente o caminho da tua realização, mas foi para ti
profundamente adversa, não só por te ter escravizado o coração, já de si
frágil, como te ter rodeado de ameaças desprezando a tua estrutura emocional.
Foste
um homem sedutor; um trabalhador incansável e tinhas plena consciência desses
atributos.
A
foice macabra ceifou, cerces, os teus alicerces com a vida. A tua passagem foi
curta. E o vazio que deixas é um abismo… como o são todos vácuos silenciosos,
tenebrosos dos que partem, fazendo falta.
Não
te digo adeus. Apenas, foste na frente.
Quanto
a mim, com todas as recordações vivas que deixaste, acrescento as palavras que
escolhi para honrar a tua figura bonita e o teu temperamento especial, as
palavras que dedicaram a Che Guevara, como tu, lutador, defensor das
injustiças, resistente no trabalho árduo e na doença e, como ele, desaparecido
em condições por esclarecer.
Não
sabemos, Amigo, para onde foste. Mas onde quer que estejas, estás, por certo,
em paz.
Talvez o Che tenha sido
o primeiro a compreender
que não se pode mudar o
mundo
sem mudar o ritmo da sua
relação com ele.
Por isso quando lhe
disseram que a mãe tinha morrido
(andava ele no Congo
naquele ano em que
esteve em parte nenhuma)
pediu um mat sem açúcar,
falou da infância
e depois afastou-se
lentamente
para cantar sozinho os
tangos argentinos
que eram por certo os
ritmos do seu sangue
Ele sabia que era preciso
o inesperado. O efeito
surpresa. Ataque e fuga.
Por exemplo, quebrar a
rotina. Despedir-se.
Desaparecer.
Criar um foco algures
dentro de nós.
Partir de um centro para
uma espécie de irradiação.
(poema de Manuel Alegre, do livro CHE, de 5 e 6 de Abril de 1996)
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