23 de Janeiro de 1967
Por que nascem as flores? Os
montes, os vales, os mares? O polvo, por que nasce? Por que nasce o planeta e
constantemente se renova?
Por que nascem os homens?
A resposta, para o momento, não é
tão elementar assim. O importante é que nascem.
A propósito de nascimento, em 23
do primeiro mês do ano de 1967, Florbela rompeu a fibra do “escafandro” em que
se desenvolvera durante nove meses e abriu os olhos para o mundo. E chorou
estrondosamente.
Por que é importante para uma
mãe, importante e decisivo, o nascimento de um filho? Como é importante? Que
representa o ato de o ter? Queira ou não queira, em que aspeto se reflete na
vida de uma mulher a consumação dos seus ideais de plenitude no filho que
desabrocha?
Um filho é um universo de emoções
desde a dádiva à posse; desde a dor ao amor; desde o fracasso ao triunfo. Não
importa o tipo de emoções; o importante é que elas existem, fazendo da vida
permanente vibração de sentimentos e desejos.
Decorridos estes anos todos, como
hoje, dar à luz, fazer brotar é algo que vivifica. Representa uma continuidade
mas, sobretudo, afirmação. Uma afirmação de valor, de grandeza; uma afirmação
de desdobramento, de perpetuidade.
Aprecio o Criador e situo-me. A
obra não acaba aqui. Tenho o inefável privilégio de confundir as minhas
lágrimas e a minha comoção com as lágrimas da chuva que Ele condensa no
infinito, no mistério insondável da Sua criação.
Eu devo a Florbela, o valor da
sua descoberta. Nesse dia, 23, encontrei-me com o mundo. Com o seu significado
e com o seu sortilégio. Devo-lhe o regozijo que senti na apoteose da sua
expulsão, a ternura contemplativa pela inocência do seu rosto angelical, a
pequenina obra de arte rezingona que, mal nascida, já lutava pela sua
subsistência, procurando o mamilo materno.
Quando decalco na memória todos
os seus passos, todas as suas atitudes, os seus risos e transmutações, uma
infinda saudade estremece o meu sangue e o repassa de melancolia.
As suas “gracinhas”, o
desembaraço com que ela exprimia a sua polémica ao que lhe desagradava. Lembro
aquele dia em que ela, entretida a ver uma montra, ficou com o nariz ao mesmo
nível do sapato de um cavalheiro que, egoisticamente apoiou o pé no degrau
exterior de acesso. Logo ela ripostou;
- Pé xolé…
Foi a forma simples de eclipsar o
indivíduo.
Como era muito delicada e doce, o
avô nutria um forte carinho por ela. Passeava-a muitas vezes ao colo, mau grado
a garota lhe enfiar os deditos pelos grossos e peludos buracos das narinas para
descobrir onde terminava.
Em 1987 publiquei um texto sobre
a sua personalidade no semanário “Notícias de Guimarães”.
Hoje, utilizando o mesmo título,
com algumas diferenças, transcrevo o que disse e completo a menina que ela
continua sendo, na sua dignidade e compostura senhoril.
E retomo o que penso dela:
Florbela vive e vibra com a vida.
Ama as plantas, os animais. Durante um tempo, foram seus companheiros
domésticos, os “hamsters” e as tartarugas. Preocupa-se com a origem e o fim de
tudo quanto existe à face da Terra.
Quando se vive e vibra, a vida
deixa de ser um fardo, uma nulidade.
Nos intervalos que lhe permite o
seu trabalho, desenvolve a sua vocação pela fotomontagem e pela fotografia,
área por que é verdadeira apaixonada. No campo da informática, explora diversas
expressões de modalidades criativas.
Continua sendo uma mulher de rara
sensibilidade. Afasta-se dos conflitos. Despreza-os. Baixa o conceito que tem
por aqueles que privilegiam a intriga e a maledicência.
De espírito versátil, possui um
sentido de humor apurado e oportuno, de reverberações originais e críticas.
Para além de outros dotes,
Florbela é perfeita naquilo que faz. Minuciosa. Meticulosa, diria que em
extremo.
Intolerante com a desordem, procura
que o seu quotidiano seja, na medida do possível, arrumado tanto na prática
materialista como no espírito.
Por isso, todos a amamos e nos
sentimos gratos e honrados pela sua companhia e pelo seu exemplo.
Uma mãe no verdadeiro sentido da palavra só pode mesmo conhecer na perfeição cada um dos seus filhos e a nossa mãe consegue nos descrever com toda a exatidão. Por isso, mais uma vez, estou completamente de acordo com esta descrição sobre a tua pessoa, minha mana.
ResponderEliminarTenho muito orgulho em ti e aprecio a forma como lutas dia a dia pelos teus obejetivos e convicções.
Adoro-te mana! Beijinhos e, mais uma vez, os meus parabéns e muitas felicidades.
Fica imenso por dizer. Mas o que transparece são os laços de carinho e afeto que une toda a nossa família e que eu desejo sejam indestrutíveis. Cada um tem a sua maneira de ser e de estar. Não temos o direito de condenar, apenas aconselhar porque o caminho foi traçado desde a gestação Saúde e prosperidade para os que mais precisam.
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