22
de Janeiro de 1938
HINO A AURORA
Ovídio
Fulgiu
como donzela e pôs em movimento todos os seres vivos…
Produziu
a luz e as trevas esqueceu.
Voltada
para o universo inteiro, radiante subiu, esplendorosa e vestida de luminosa e
deslumbrante veste.
De
ouro colorida e maravilhosa de contemplar, ela refulgiu, a mãe das vacas e
condutora dos dias.
Afortunada
Aurora, que tem o olhar dos deuses e o formoso cavalo do claro esplendor
conduz, mostrou-se aureolada de raios luminosos com ofertas de luz sobre o
universo reclinado.
Traz
para junto de nós os bons e afugenta com os teus raios o inimigo! Dá-nos um
lugar de pastagem vasto e sem perigos. Afasta as guerras, traz-nos as riquezas,
não demores a oferta, Aurora generosa, ao teu cantor.
Ilumina-nos,
ó deusa Aurora, com as melhores luzes e dá-nos o alimento, tu que possuis tudo
o que é de valor e toda a oferta de bois e de cevada e de carros.
Ó
filha do céu, ó bem-nascida, enche-nos de riqueza a nós, ó alta e grande.
Eis
uma peça lindíssima do Poeta da Antiguidade, que transcrevo nesta data especial
que tanta felicidade trouxe a minha mãe. Quisera eu poder cantar como Ovídio, o
meu hino de gratidão por tudo quanto a vida me ofereceu, bom e menos bom, pois
tudo contribuiu para o meu crescimento e valorização.
***************
Resenha Biográfica
No
Instituto Maternal de Coimbra, freguesia da Sé Catedral, modernamente designada
por Sé Nova, Alzira Contente Tondela dos Santos, casada com Manuel dos Santos,
dá à luz uma criança do sexo feminino que é registada com o nome de Aurora. É
batizada na Igreja Matriz da Figueira da Foz, cidade onde, em casa própria,
reside com seus pais e a madrinha de batismo, Aurora Rodriguez de Almeida,
refugiada em Portugal, da guerra civil de Espanha., após o assassinato dos seus
familiares em Madrid.
Acontecimentos
curiosos marcam a personalidade de Aurora enquanto bebé. Aos seis meses, ingere
o alfinete da fralda. Com pouco mais de um ano, come as cabeças dos fósforos de
cera de uma caixa inteira, facto que a obriga a fazer uma lavagem ao estômago.
A aversão que dispensa aos alimentos cozinhados, transforma-se, na
adolescência, pelo prazer da “boa mesa”. Continua a comer pouco mas essa
frugalidade é substituída pelo bife mal passado e pelas batatas fritas que a
mãe frita como ninguém, muito semelhantes às que, mais tarde, se venderiam em
pacote.
Não
chega a gatinhar. Quando dá os primeiros passos, não corre, precipita-se.
Parece levantar voo. As quedas são, por esse motivo, frequentes e os joelhos
andam sempre esfolados.
A
par do seu crescimento, ensinam-lhe a pronunciar as palavras corretamente. Impressiona-a
a palavra “guerra”. Dizem-lhe: “É guerra, não é “guega”. Ela repete: É “guega”,
não é “guega”. Está longe a oportunidade de afirmar que “a guerra é contra os
inocentes e a favor dos vilões”.
É
uma criança alegre e dotada. O pai ensina-a a andar de bicicleta e a partir dos
quatro anos, aos domingos, fazem juntos o caminho da serra da Boa Viagem,
sobranceira ao Atlântico e situada a 20 Km de Buarcos, região de pescadores,
contígua à cidade.
Como
aprendeu a ler, não sabe. A mãe disse sempre que nunca soletrou e desde muito
cedo, cultivou a paixão pela leitura, passando as tardes enfiada na Biblioteca
Municipal, próximo de casa. Ainda não completara os seis anos quando entrou na
escola primária, lendo fluentemente. D. Maria Correia, a professora, e o
marido, que a auxiliava nas quatro classes quando necessário, suspeitando que
ela estava lendo de cor o livro de leitura daquele ano, puseram na sua frente
um jornal que ela leu com invulgar desenvoltura. A mãe guardava religiosamente
a sua primeira prova escrita que tinha a classificação: “seis anos -16 valores”
Por
essa altura, oferecem-lhe um dicionário de Língua Portuguesa e é com verdadeiro
enlevo que se familiariza com os termos mais complexos, decorando o seu
significado e ampliando o conhecimento sobre a maior quantidade de vocábulos.
Não tinha ainda a noção da sua finalidade mas o que era “seca” para os outros,
era diversão para ela.
Inicia
a sua carreira literária, aos 14 anos, concorrendo aos Jogos Florais da
Tertúlia Edípica, de Peniche, sendo distinguida em poesia infantil. Pouco tempo
depois, com os textos “Que Razões Fazem o Casamento Feliz” e “A Mais Bela Carta
de Amor”, as revistas Selecções Femininas e Flama, editadas em Lisboa,
galardoam-na com dois prémios.
Começa
a escrever em jornais e revistas nacionais e estrangeiros e, de colaboração com
um colega de estudos, funda, na Figueira da Foz, a revista Praia, Mar e Sol.
Como todos os projetos, elaborados apenas com o entusiasmo e a vontade, é
publicado o primeiro e único exemplar.
Com
duzentas páginas, entre poesia livre e rimada e os primeiros sonetos,
modalidade que desenvolve, termina o livro “Canção ao Luar” e guarda-o na
gaveta.
Por
essa data, realiza a sua primeira entrevista com o professor e advogado Dr.
Pinto Carneiro, orador sagrado, de Coimbra, que é publicada no Jornal Feminino,
do Porto. Entretanto, na revista Atualidades, de Moçambique, dirige uma página
dedicada à Educação da Mulher e da Criança.
Escreve
as novelas “Paisagem Beirã” e “Deus Não Dorme”, esta última publicada em
folhetim pela revista Terras de Portugal, de Braga.
Cursa
Românicas e frequenta Direito. Nas férias, ocupa o tempo em aprender piano e
continuar Artes Plásticas no Museu Machado de Castro, em Coimbra, no
prosseguimento de aulas anteriores com o pintor francês Rogério Reynaud, uma
interessante figura de artista, de farta cabeleira branca, sempre trajado de
preto, que habitava umas casas abaixo da sua. A década de 60 é fértil para a
sua atividade. Depois de aperfeiçoar o Desenho com Mestre Waldemar da Costa, é
em Lisboa que trabalha, dando aulas, escreve, pinta e estuda.
Revistas
e jornais da imprensa regional tomam a iniciativa de possuir, cada um, a sua
página ou suplemento literários.
É
o período das Páginas Culturais. Sob a sua direção e com o nome de Aurora
Santos, cria Margem no semanário Gazeta de Coimbra, página quinzenal de arte e
cultura, nela publicando muitos nomes nacionais e estrangeiros, ligados ao
mundo das Letras, Desenho e Pintura.
Integrada
na coletânea “Panorâmica Poética Luso-Hispânica”, que leva por todo o país e
pela Europa, exposições de Poesia Ilustrada, reunindo uma plêiade de pintores e
poetas da América Latina, Aurora participa com o livro “Fogo de Santelmo”,
ilustrado por ela própria, com capa da autoria do Pintor catalão, Francisco
Lezcano. Tem oportunidade de conhecer muitos vultos da cultura de Espanha,
México, S. Salvador, Chile, Uruguai, Brasil, Bolívia, Colômbia, Venezuela,
Cuba, Porto Rico, etc..
Na
Rádio Sociedade Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, os seus versos são
declamados, numa produção da poetisa e harpista Alvayr Braga Esteves, subordinada
ao tema “Intercâmbio Literário Luso-Brasileiro”. Num dos números de Mákua,
volume de poesia, a coleção Imbondeiro, de Angola, publica vários poemas seus e
na Enciclopédia Literária dirigida pela Dr.ª Adalzira Bittencourt, no Brasil,
são inseridos outros poemas, tanto de caráter social como humanista. Uma das
poesias, “O Céu Desceu”, publicada no Diário de Notícias, é nesta coletânea
divulgada com o título “Alma de Artista” e traduzida para espanhol, francês,
italiano, alemão, sérvio e russo.
Na
modalidade de conto, o concurso IV Prémio Joaquim Namorado distingue-a pelo seu
trabalho “O Feto”.
Nos
anos 70, a Rádio Televisão Portuguesa premeia a sua peça teatral para crianças,
em oito episódios, “As Coisas Que As Coisas Dizem”, obra em desenho animado que,
por falta de recursos humanos e técnicos, não foi exibida.
Tem
várias peças de teatro, umas publicadas, por exemplo no Almanaque de Fafe e
outras inéditas.
Numa
dada etapa da sua vida estudantil, inicia o movimento a favor dos exames “ad
hoc”, destinado a autodidatas, tendo lugar a primeira reunião num apartamento
exíguo com cadeiras emprestadas de um café. Outras reuniões se seguiram no
Porto, Lisboa e Coimbra, a nível nacional, fato que levou o governo Salazar a
autorizar os primeiros exames de admissão às faculdades sem serem antecedidos
dos currículos académicos obrigatórias.
É
autora dos projetos Ceduca – Centro de Educação Ativa, modelo de escola
educativa para crianças dos quatro aos doze anos. Factotum – Promoção de Arte e
Artesanato, visando a divulgação dos artesãos e artífices nacionais. Neste
domínio, inaugurou diversas exposições nos Hotéis de maior prestígio, Caves do
Vinho do Porto, Feiras Internacionais e Certames culturais, designadamente a
Mostra Internacional realizada no Cais de Vila Nova de Gaia.
Desempenhou
papel de relevo, nas jornadas “Mulheres em Gestão de Projetos”, concorrendo com
a ideia de uma empresa metalo-mecânica para emprego de deficientes motores
ligeiros, esquema premiado em sessão levada a efeito pela União de Cooperativas
do Norte.
Atualmente
trabalha na biografia do Pintor Lezcano e numa obra monumental, única no
género, “Bíblia Sagrada – sonetos”, a publicar brevemente e que nesta etapa, o
livro “Jeremias” conta já com 1800 sonetos.
Eu,
que a entrevistei em vários momentos da sua vida literária e artística, peço
que me perdoem os que lerem estes “retalhos”. Tenho a consciência de que falta
dizer muito ainda. Mas enfim…
Alguém
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SALMO de BUDA
Eis,
ó monges, a verdade santa acerca da dor.
A
dor é nascimento, a dor é a velhice, a dor é a doença, a dor é a morte, a dor é
a união com o que não se ama, a dor é a separação daquilo que se ama, a dor é
não alcançar o que se deseja, em suma, os outros objetos de afeição são dor.
Eis,
ó monges, a verdade santa acerca da dor: é a saúde (da existência) que nos leva
de renascimento em renascimento, acompanhada do prazer e da concupiscência,
encontrando aqui e além a satisfação própria, a sede do prazer, a sede da
existência, a sede da instabilidade.
Eis, ó monges, a verdade santa acerca
da supressão da dor; é o sagrado caminho das sete fases que se chamam fé pura, linguagem pura, ação pura,
meios puros de subsistência, aplicação
pura, memória pura, meditação pura...
Julgo que fecho com chave de ouro este
pedaço da homilia de Buda, Mestre que muito aprecio.
Deixo as suas sábias palavras para
exemplo de alguém que se esforce por as seguir e, numa fração, tentar melhorar
o mundo, melhorando-se a si próprio.
Obrigada a todos!
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