Leiria, 3 de
Outubro de 1919 – Palmela, 20 de Julho de 2012
SALVÉ PROFESSOR
A morte não
vence a vida quando a memória das pessoas ilustres permanece no escrínio dos
nossos afectos.
Distinguido
Professor
Dr. José
Hermano Saraiva
Lembro-lhe quem
sou: aquela pessoa que há tempos, lhe solicitou com pleno resultado,
informações sobre o “jogo do pau”.
A verdade é que
eu escrevo prosa e verso desde a idade do liceu.
Atualmente
dispus-me a escrever a “Bíblia em Sonetos” e vou no livro II Reis.
E porque me
detenho a pensar com que finalidade, quem me merece confiança e quem poderá
aconselhar-me, o Professor veio-me à ideia.
Junto lhe envio
numa disquete, Génesis para que tenha a bondade de o avaliar.
Versículo a
versículo narrativo, fiz até agora 1500 sonetos.
Os custos da
edição são elevados, as editoras, mesmo as de carácter religioso queixam-se da
falta de interesse pela leitura
Que faria o
Professor no meu lugar?
Neste exato
momento, surgiu-me a ideia, inspirada pelo seu último programa na TV sobre o malogrado
Camões. O documentário arrancou lágrimas dos meus olhos.
Eu possuo uma
Bíblia gigante apenas com gravuras da autoria de Gustave Doré.
Seria possível
fazer uma série sobre este material em conjunto, tendo o Professor como
apresentador, com o seu jeito inconfundível e sério de dizer, uma verdadeira
arte na sua fascinante simplicidade?
Pronto. Disse o
que tinha para dizer. Resta-me apresentar as minhas desculpas pela ousadia.
Reitero a
apreciação de que o Professor me merece toda a confiança, quer pelo seu
carácter quer pela sua inteligência e sentido de oportunidade.
Saúdo-o com a
mais elevada consideração e apreço, antecipadamente grata pela atenção
dispensada a este desabafo.
Atenciosamente
Aurora Tondela
Anexo: 1
disquete
Em 2 de
Dezembro de 2009, pouco tempo depois mas não tão pouco que me não evitasse o
receio de ficar sem reposta, eu recebia a seguinte carta:
Exma. Senhora
Recebi a sua
carta e admito que nestas avalanches de correspondência, eu esteja em falta
para consigo.
Peço 2ª via da
sua correspondência e subscrevo-me com muita consideração.
Assina José
Hermano Saraiva
Em P S,
acrescenta:
É favor dirigir
a correspondência não para a rua do Ouro mas para a Av. João Crisóstomo,
39-1º-1050-125 Lisboa
Em 25 de
Janeiro de 2010, recebia do Professor a seguinte carta:
Recebi a sua
carta e felicito-a pela coragem dos seus projetos em curso. Quanto ao projeto
de um programa sobre estas matérias, estou muito duvidoso da sua oportunidade,
mas agradeço-lhe a ideia e confesso-me ao seu dispor da medida das minhas
limitadas possibilidades.
O Professor
cumprimenta e assina.
E nunca mais
recebe notícias minhas. Dos sonetos já elaborados, agora na ordem dos 1600, dos
livros já transformados em livros de poesia, ultimo Cantares de Salomão e atiro-me
ao trabalho de fazer Isaías.
Não esqueço o
Professor e sinto que o tempo urge.
Em 21 de
Fevereiro de 2012
Distinguido
Professor
Recordo-lhe a
poetisa da Bíblia em sonetos.
Escrevo, neste
momento, o 23º Livro, Isaías. Talvez inicie este ano o NT e o termine.
Entretanto,
desejo enviar-lhe para uma curta apreciação, um ou outro Livro - os dois
primeiros.
Em CD pois não
editei nem sei como fazê-lo. Neste domínio estou completamente às escuras.
Seria o senhor
tão gentil que pudesse dar-me a sua douta opinião?
E até fazer um
prefácio de apresentação?
Que destino dar
a este trabalho?
A minha
credencial é humilde: escrevo desde os 14 anos e conquistei alguns prémios mas
não tenho, nunca tive pretensões. Tenho apenas o prazer de escrever.
Numa Pátria
madrasta como esta? Sem comiseração para os sem recursos?
Queira
desculpar o desabafo.
Esse CD fala
por mim. Se me achar merecedora de uma resposta, muito grata lhe ficarei.
Agradecendo
toda a atenção que se digne prestar a este assunto, subscrevo-me com os mais
respeitosos cumprimentos.
Atenciosamente
Aurora Tondela
PS - Tenho a
honra de lhe indicar o link do meu blog onde, nesta quadra festiva, ofereço um
conto da Páscoa, a todos da minha maior consideração e que distingo no meu
dossier de preferências como personagens de grande prestigio que são o exemplo
das gerações futuras.
fogodesantelmo.bogspot.com
O Professor não
chegou a receber esta carta nem o CD prometido porque, por uma daquelas razões
inexplicáveis, eu nunca lho enviei. E tenho remorsos de o não ter feito. Teria
agora uma opinião desassombrada e honesta como era apanágio do seu modo de ser.
Todavia, guardo
como ferramentas de trabalho as suas palavras simples que valem como facho
luminoso nesta cruzada que está a ser escrever a Bíblia em sonetos.
Eu devia-lhe,
Professor, esta singela confissão. Se nas paragens do Desconhecido tem o
privilégio de saber, receba a homenagem saudosa de quem desejaria que
continuasse, de quem o recorda como Alguém que não necessita nascer de novo
para não ser esquecido.
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