segunda-feira, 3 de outubro de 2016

RIO DOURO UM POEMA DE GLÓRIA

(foto tirada do site topdescontos)

Um dos bens mais preciosos da natureza é a água. Ao dispor do ser vivo, humano, animal ou planta, ela é uma riqueza indispensável. Eu adoro a água. Bebo-a e saboreiam-na todos os poros da minha pele.
Ultimamente, por vários dias, tomei contacto quase permanente com esse delicioso líquido, considerado um oásis nos desertos quado em córregos, surge à sombra de gigantescas palmeiras.
O enigma das nascentes transforma-se em ribeiros, riachos, lagos e lagoas, rios e afluentes, que a inteligência humana recria em fontanários, chafarizes, recantos fluviais e piscinas.
Com inspiração neste panorama global, falo hoje de um mini cruzeiro que fiz, durante sete horas, navegando pelo rio Douro desde o Porto até à Régua.
Extenso, vigoroso, marginado por espessa arborização, é um profuso e colorido postal ilustrado. Durante o percurso, pudemos reviver os registos que perduram numa história de factos e lendas, gravados pelos edifícios seculares, testemunhos em ruínas uns, outros adaptados à vida moderna.
São 8:30h. Uma neblina ondula por toda a marina e acaba por desfazer-se com o nascer do sol.
Entro no barco. Os nós das cordas desatam-se e a embarcação começa a deslizar, ganhando velocidade. Uma esteira luminosa, coruscante, debruada de espuma, abre-se para os lados da quilha e da ré. Sorvo a plenos pulmões a brisa fresca, capitosa, da corrente e deixo-me embalar pela voz do nosso anfitrião, descrevendo os pontos assinaláveis que rememoram outras épocas.
Passamos a Casa Branca de Gondomar, a vetusta localidade de Avintes e a ponte réplica da ponte da Arrábida, na foz do rio Sousa, um afluente do Douro. Outros barcos se cruzam com o nosso. Vou até à ré e recebo na cara fortes salpicos refrigerantes a contestarem os raios metálicos de um astro oriental, subindo sobre as nossas cabeças.
Divisa-se em paralelo connosco, a aldeia de Arnelas, a zona de tratamento de águas de Lever, a praia da Lomba, um fascinante areal bordejado por águas cor de líquen que nos convidam a flutuar.
É cedo para o almoço, servido a bordo, mas é tempo de um aperitivo. Como não podia deixar de ser, os cálices de vinho do Porto fizeram as honras da “casa”.
E eis a barragem de Crestuma.
Separados da proa por uma parede de vidro aberta pelo meio, assistimos ao erguer do navio, com muita lentidão e extremos de segurança, sobre o dorso da água silenciosa. É um intervalo que leva algum tempo, uma expectativa excitante para quem desconhece a manobra. O engenho do homem em destaque. Do homem sábio, inteligente ligando a paz ao progresso.
O barco desliza de novo, sereno e determinado.
Estão à vista a aldeia de Melres, as minas do Pejão e a freguesia de Pé Dorido, detentora da lenda que conta a travessia no rio de uma princesa que caiu e se magoou num pé. O povo comentava que ela, como consequência da queda, ficara com o “pé dorido”. Daí, a origem do nome ao lugar e de rio Mau às águas que o banham.
Agora, a foz do rio Paiva e o mosteiro de Alpendurada, transformado em hotel, ladeado por casas destinadas a turismo rural.
Antes, porém a célebre ilha do Amor, onde se evoca ainda a lenda de um casal jovem que morreu ao tentarem se salvar um ao outro de morrerem afogados nas águas caudalosas do rio.
Avista-se a freguesia de Palma, zona agrícola fértil pelas plantações de limoeiros, principal comércio da região mas infelizmente destruída pelas exigências da barragem do Carrapatelo. Outros vinte minutos para a repetição da manobra.
Almoço. Uma refeição com um serviço de requintado zelo e sabor enquanto a paisagem se desenrola, qual álbum de reminiscências.
Caldas de Rego onde existe o tratamento em águas térmicas e a ponte de Ermida, que liga Baião a Resende, a ponte mais alta sobre o rio Douro, são mais dois elos de referência seguidos do palacete onde o 1º Vice-Rei da Índia viveu e morreu.
De súbito, pintada numa rocha, surge a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem. Na época de D. Antónia, a Ferreirinha, como o povo chamava à aguerrida e incansável proprietária das vinhas do Alto Douro, os barcos rabelos transportavam as pipas do Porto até à Régua e não raro se expunham às intempéries do clima. Para obstar a acidentes e proteger essas viagens, principalmente, por neste local do rio o seu caudal ser bastante baixo e estreito, a sua fé entregava-os à devoção com a sua padroeira.
Terras de Moledo fecha o trajeto mas não o rio, que continua, belo e enérgico, até Espanha, onde nasce.
Moledo onde tudo está em ruínas, incluindo o Casino, aguardando que algum endinheirado remova os escombros e crie um novo painel recreativo e de lazer para os que nos visitam.
Termino mas deixo um aparte:
Se és um indivíduo do quotidiano, o dever que tens para com a água é poupá-la, não desperdiçá-la.
Se és romântico, para além da economia, deves saboreá-la quando tens sede, quando nela mergulhas o teu corpo.
Se és intelectual, regozija-te na contemplação das formosas geometrias da água em múltiplas formas, revoltas ou tranquilas.
Se és espiritual, interpreta na água a vontade universal que cria e movimenta toda a ordem na natureza.
Ama a água!

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