(foto tirada do site topdescontos)
Um
dos bens mais preciosos da natureza é a água. Ao dispor do ser vivo, humano,
animal ou planta, ela é uma riqueza indispensável. Eu adoro a água. Bebo-a e
saboreiam-na todos os poros da minha pele.
Ultimamente,
por vários dias, tomei contacto quase permanente com esse delicioso líquido,
considerado um oásis nos desertos quado em córregos, surge à sombra de
gigantescas palmeiras.
O
enigma das nascentes transforma-se em ribeiros, riachos, lagos e lagoas, rios e
afluentes, que a inteligência humana recria em fontanários, chafarizes, recantos
fluviais e piscinas.
Com
inspiração neste panorama global, falo hoje de um mini cruzeiro que fiz,
durante sete horas, navegando pelo rio Douro desde o Porto até à Régua.
Extenso,
vigoroso, marginado por espessa arborização, é um profuso e colorido postal
ilustrado. Durante o percurso, pudemos reviver os registos que perduram numa
história de factos e lendas, gravados pelos edifícios seculares, testemunhos em
ruínas uns, outros adaptados à vida moderna.
São
8:30h. Uma neblina ondula por toda a marina e acaba por desfazer-se com o
nascer do sol.
Entro
no barco. Os nós das cordas desatam-se e a embarcação começa a deslizar,
ganhando velocidade. Uma esteira luminosa, coruscante, debruada de espuma,
abre-se para os lados da quilha e da ré. Sorvo a plenos pulmões a brisa fresca,
capitosa, da corrente e deixo-me embalar pela voz do nosso anfitrião,
descrevendo os pontos assinaláveis que rememoram outras épocas.
Passamos
a Casa Branca de Gondomar, a vetusta localidade de Avintes e a ponte réplica da
ponte da Arrábida, na foz do rio Sousa, um afluente do Douro. Outros barcos se
cruzam com o nosso. Vou até à ré e recebo na cara fortes salpicos refrigerantes
a contestarem os raios metálicos de um astro oriental, subindo sobre as nossas
cabeças.
Divisa-se
em paralelo connosco, a aldeia de Arnelas, a zona de tratamento de águas de
Lever, a praia da Lomba, um fascinante areal bordejado por águas cor de líquen
que nos convidam a flutuar.
É
cedo para o almoço, servido a bordo, mas é tempo de um aperitivo. Como não
podia deixar de ser, os cálices de vinho do Porto fizeram as honras da “casa”.
E
eis a barragem de Crestuma.
Separados
da proa por uma parede de vidro aberta pelo meio, assistimos ao erguer do navio,
com muita lentidão e extremos de segurança, sobre o dorso da água silenciosa. É
um intervalo que leva algum tempo, uma expectativa excitante para quem
desconhece a manobra. O engenho do homem em destaque. Do homem sábio,
inteligente ligando a paz ao progresso.
O
barco desliza de novo, sereno e determinado.
Estão
à vista a aldeia de Melres, as minas do Pejão e a freguesia de Pé Dorido,
detentora da lenda que conta a travessia no rio de uma princesa que caiu e se
magoou num pé. O povo comentava que ela, como consequência da queda, ficara com
o “pé dorido”. Daí, a origem do nome ao lugar e de rio Mau às águas que o
banham.
Agora,
a foz do rio Paiva e o mosteiro de Alpendurada, transformado em hotel, ladeado
por casas destinadas a turismo rural.
Antes,
porém a célebre ilha do Amor, onde se evoca ainda a lenda de um casal jovem que
morreu ao tentarem se salvar um ao outro de morrerem afogados nas águas
caudalosas do rio.
Avista-se
a freguesia de Palma, zona agrícola fértil pelas plantações de limoeiros,
principal comércio da região mas infelizmente destruída pelas exigências da
barragem do Carrapatelo. Outros vinte minutos para a repetição da manobra.
Almoço.
Uma refeição com um serviço de requintado zelo e sabor enquanto a paisagem se
desenrola, qual álbum de reminiscências.
Caldas
de Rego onde existe o tratamento em águas térmicas e a ponte de Ermida, que
liga Baião a Resende, a ponte mais alta sobre o rio Douro, são mais dois elos
de referência seguidos do palacete onde o 1º Vice-Rei da Índia viveu e morreu.
De
súbito, pintada numa rocha, surge a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem. Na época
de D. Antónia, a Ferreirinha, como o povo chamava à aguerrida e incansável
proprietária das vinhas do Alto Douro, os barcos rabelos transportavam as pipas
do Porto até à Régua e não raro se expunham às intempéries do clima. Para
obstar a acidentes e proteger essas viagens, principalmente, por neste local do
rio o seu caudal ser bastante baixo e estreito, a sua fé entregava-os à devoção
com a sua padroeira.
Terras
de Moledo fecha o trajeto mas não o rio, que continua, belo e enérgico, até
Espanha, onde nasce.
Moledo
onde tudo está em ruínas, incluindo o Casino, aguardando que algum endinheirado
remova os escombros e crie um novo painel recreativo e de lazer para os que nos
visitam.
Termino
mas deixo um aparte:
Se
és um indivíduo do quotidiano, o dever que tens para com a água é poupá-la, não
desperdiçá-la.
Se
és romântico, para além da economia, deves saboreá-la quando tens sede, quando
nela mergulhas o teu corpo.
Se
és intelectual, regozija-te na contemplação das formosas geometrias da água em
múltiplas formas, revoltas ou tranquilas.
Se
és espiritual, interpreta na água a vontade universal que cria e movimenta toda
a ordem na natureza.
Ama
a água!
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