terça-feira, 6 de setembro de 2016

ENCONTRO DE CANICHES XII


- Afinal ele disse que mais vale remediar que prevenir e isso faz-me pensar. - Rissol alarmou-se.
- Estou a ouvir bem?
- Foi irónico. Não é o que os governantes preferem? Para saírem bem na fotografia? Se prevenirem não há espectáculo. Não mostram a sua disponibilidade…
- Se falasses no jogo de interesses… - contrapôs Jymy.
- Olha, somos só três. Que é feito do pessoal?
Rubi esclareceu:
- Foi tudo para férias!
- Com estes focos de incêndios? Só em casa, numa varanda, ao fresco da noite.
Rissol bocejou.
- Estou a pensar em emigrar.
- Arranjaste emprego?
- Não brinco, Jymy. Este país está uma lástima. Ainda poderíamos ser grandes em alguma coisa.
- No turismo. - lembrou Rubi - Na gastronomia. Até aparecem “master chef” infantis!
- Não, não! Somos grandes em muitas áreas, até talvez os maiores. Nos fogos postos. Na violência doméstica. Na criminalidade…
- Espera aí! - afligiu-se Jymy.
Há barbaridade sim nos instintos do português considerado pacato. E já nem falo na corrupção da alta finança…
- Pois! Faz-se, descobre-se, engendra-se um palco teatral de aparências correctivas ou punitivas e abafa-se o caso. O jogo de interesses permanece. E o silêncio enche muitas algibeiras.
Rubi emite um soluço.
- Lamento o rol das vítimas para quem justiça não foi feita.
- Porque o cidadão é acomodatício. Aborrece-se se é importunado. Só sabe comentar sentado numa poltrona.
- Ah! Temos as novelas para distrair. - cortou Rissol a desanuviar o ambiente.
- Para desenvolver o obscurantismo, melhor dizendo. As intrigas, as traições, os incidentes são sempre os mesmos. O baixo nível das novelas embrutece as massas. Muito conveniente.
- É melhor estar calado. Ver correr o marfim…
- Pois! És dos que não tem imunidade diplomática.
- Mas tenho em alta estima os valores morais, coisa que certas pessoas não conhecem, degradando as suas próprias origens, se algum verniz as sustenta.
- Em certos aspectos não é verniz. É fuligem.
Casquinam uma gargalhada.
Mas Rissol funga uma lágrima.
- Há alguém neste momento que precisa que se faça “justiça de Talião”.
A irritação de Rissol é abrandada por Jymy, que observa:
- Pode-se fugir ao juízo e sentença dos homens mas não à justiça divina. E é cá que se pagam, de uma forma ou de outra, todas as maldades que inspiram o génio humano à destruição do seu semelhante.

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