-
Afinal ele disse que mais vale remediar que prevenir e isso faz-me pensar. - Rissol
alarmou-se.
-
Estou a ouvir bem?
-
Foi irónico. Não é o que os governantes preferem? Para saírem bem na
fotografia? Se prevenirem não há espectáculo. Não mostram a sua
disponibilidade…
-
Se falasses no jogo de interesses… - contrapôs Jymy.
-
Olha, somos só três. Que é feito do pessoal?
Rubi
esclareceu:
-
Foi tudo para férias!
-
Com estes focos de incêndios? Só em casa, numa varanda, ao fresco da noite.
Rissol
bocejou.
-
Estou a pensar em emigrar.
-
Arranjaste emprego?
-
Não brinco, Jymy. Este país está uma lástima. Ainda poderíamos ser grandes em
alguma coisa.
-
No turismo. - lembrou Rubi - Na gastronomia. Até aparecem “master chef”
infantis!
-
Não, não! Somos grandes em muitas áreas, até talvez os maiores. Nos fogos
postos. Na violência doméstica. Na criminalidade…
-
Espera aí! - afligiu-se Jymy.
Há
barbaridade sim nos instintos do português considerado pacato. E já nem falo na
corrupção da alta finança…
-
Pois! Faz-se, descobre-se, engendra-se um palco teatral de aparências
correctivas ou punitivas e abafa-se o caso. O jogo de interesses permanece. E o
silêncio enche muitas algibeiras.
Rubi
emite um soluço.
-
Lamento o rol das vítimas para quem justiça não foi feita.
-
Porque o cidadão é acomodatício. Aborrece-se se é importunado. Só sabe comentar
sentado numa poltrona.
-
Ah! Temos as novelas para distrair. - cortou Rissol a desanuviar o ambiente.
-
Para desenvolver o obscurantismo, melhor dizendo. As intrigas, as traições, os
incidentes são sempre os mesmos. O baixo nível das novelas embrutece as massas.
Muito conveniente.
-
É melhor estar calado. Ver correr o marfim…
-
Pois! És dos que não tem imunidade diplomática.
-
Mas tenho em alta estima os valores morais, coisa que certas pessoas não
conhecem, degradando as suas próprias origens, se algum verniz as sustenta.
-
Em certos aspectos não é verniz. É fuligem.
Casquinam
uma gargalhada.
Mas
Rissol funga uma lágrima.
-
Há alguém neste momento que precisa que se faça “justiça de Talião”.
A
irritação de Rissol é abrandada por Jymy, que observa:
-
Pode-se fugir ao juízo e sentença dos homens mas não à justiça divina. E é cá
que se pagam, de uma forma ou de outra, todas as maldades que inspiram o génio
humano à destruição do seu semelhante.
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