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Uf! Até que enfim nos reunimos!
Rissol
acomodou-se, esperando os amigos.
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Como é que passaram o Carnaval? – perguntou Jimy.
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Qual deles? – ironizou Lulu. - O das máscaras ou dos nossos dias? Gigi ladrou o
que lhe valeu uma mordiscadela do Filo.
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Devem convir que Carnaval é o que se passa neste país. Ninguém precisa de andar
fantasiado porque vivem as fantasias uns dos outros, à custa do próximo se
divertem; se distraem com as notícias de arromba; criticam a infelicidade alheia
e quem tem tudo arvora uma cara de comiseração por quem tem pouco ou nada e
pensa no seu farto umbigo.
Gigi
suspirou e calou-se.
-
Ele tem razão - alvitrou Filo.- Eu sei de um caso…
-
Só um?
Jimy
mudou de posição, sacudindo a coleira.
Lulu
dispôs-se a falar.
-
Posso?
-
Claro! - responderam em coro.
-
Então… o irmão do meu dono foi a uma consulta, que estava marcada, pagou o
serviço e esperou na sala. Esperou, esperou e o tempo dilatou-se de tal modo
que ele, vendo que o não chamavam, foi saber a razão da demora. Responderam-lhe
que não tinha nada marcado. A empregada da administração folheou papelada e
nada…
-
A consulta tinha-se eclipsado… - interrompeu Rissol.
-
Entretanto a médica atravessou o corredor e o tipo correu para ela. Já o
atendo, já o atendo, disse a doutora com um sorriso até às orelhas. Ele esperou
de novo, muito atrapalhado, sem dizer nada, não fosse estragar.
-
Mais do que estava estragado. - cortou Jimy.
-
Que barafunda! - admitiu Rissol.
-
Passado um século, o homem insistiu, repetiram-lhe que não havia nada registado
até que a médica saiu do consultório. Tinha acabado o serviço. E ainda mandou
vir com ele por ser casmurro e ignorar a informação.
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Mas aceitaram-lhe o dinheiro da consulta.
-
E não lhe devolveram?
-
Acho que sim.
-
Também era melhor.
-
E marcaram-lhe outra, não?
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Não sei se ele quis.
-
Eu não queria mais nada com esses. Ainda me cortavam uma orelha, julgando que eu
precisava de ser operado às amígdalas!
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Ah! Mas eu sei de uma melhor.- exclamou Rissol.
-
Conta, conta! – gritaram em uníssono.
-
Passou-se numa escola primária. Como o miúdo não quis comer a refeição da
cantina, a educadora obrigou-o a manter a comida na boca durante a tarde toda.
-
Brrr! Eu trincava-lhe uma canela.
-
E os pais, que fizeram?
-
Creio que a ameaçaram…
-
É por essas e outras que as pessoas abusam. Era logo denunciá-la a quem de
direito. Assim, vai cometer as mesmas atrocidades.
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E assim vai este país. - gemeu Gigi.
-
E o mundo…- corroborou Jimy.
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