segunda-feira, 21 de março de 2016

ENCONTRO DE CANICHES XI


- Uf! Até que enfim nos reunimos!
Rissol acomodou-se, esperando os amigos.
- Como é que passaram o Carnaval? – perguntou Jimy.
- Qual deles? – ironizou Lulu. - O das máscaras ou dos nossos dias? Gigi ladrou o que lhe valeu uma mordiscadela do Filo.
- Devem convir que Carnaval é o que se passa neste país. Ninguém precisa de andar fantasiado porque vivem as fantasias uns dos outros, à custa do próximo se divertem; se distraem com as notícias de arromba; criticam a infelicidade alheia e quem tem tudo arvora uma cara de comiseração por quem tem pouco ou nada e pensa no seu farto umbigo.
Gigi suspirou e calou-se.
- Ele tem razão - alvitrou Filo.- Eu sei de um caso…
- Só um?
Jimy mudou de posição, sacudindo a coleira.
Lulu dispôs-se a falar.
- Posso?
- Claro! - responderam em coro.
- Então… o irmão do meu dono foi a uma consulta, que estava marcada, pagou o serviço e esperou na sala. Esperou, esperou e o tempo dilatou-se de tal modo que ele, vendo que o não chamavam, foi saber a razão da demora. Responderam-lhe que não tinha nada marcado. A empregada da administração folheou papelada e nada…
- A consulta tinha-se eclipsado… - interrompeu Rissol.
- Entretanto a médica atravessou o corredor e o tipo correu para ela. Já o atendo, já o atendo, disse a doutora com um sorriso até às orelhas. Ele esperou de novo, muito atrapalhado, sem dizer nada, não fosse estragar.
- Mais do que estava estragado. - cortou Jimy.
- Que barafunda! - admitiu Rissol.
- Passado um século, o homem insistiu, repetiram-lhe que não havia nada registado até que a médica saiu do consultório. Tinha acabado o serviço. E ainda mandou vir com ele por ser casmurro e ignorar a informação.
- Mas aceitaram-lhe o dinheiro da consulta.
- E não lhe devolveram?
- Acho que sim.
- Também era melhor.
- E marcaram-lhe outra, não?
- Não sei se ele quis.
- Eu não queria mais nada com esses. Ainda me cortavam uma orelha, julgando que eu precisava de ser operado às amígdalas!
- Ah! Mas eu sei de uma melhor.- exclamou Rissol.
- Conta, conta! – gritaram em uníssono.
- Passou-se numa escola primária. Como o miúdo não quis comer a refeição da cantina, a educadora obrigou-o a manter a comida na boca durante a tarde toda.
- Brrr! Eu trincava-lhe uma canela.
- E os pais, que fizeram?
- Creio que a ameaçaram…
- É por essas e outras que as pessoas abusam. Era logo denunciá-la a quem de direito. Assim, vai cometer as mesmas atrocidades.
- E assim vai este país. - gemeu Gigi.
- E o mundo…- corroborou Jimy.

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