Quando
os amigos se reuniram todos, Rissol disparou:
-
Tenho uma história verídica para vos contar.
-
Conta, conta.- disseram num eco.
Aí
vai! Ia uma mulher por um passeio a falar ao telemóvel e levava uma miúda pela
mão. Devia ser filha, não sei.
-
Bem, não interessa!- interrompeu o Rubi.
-
De repente, larga a mão da garota e pára, continuando com a animada conversa…
-
…ao telemóvel! – acentuou Gigi.
-
Claro! A criança, vendo-se solta, saiu do passeio e atravessou a estrada…
-
Que horror! – interrompeu Jimy.
-
Posso acabar ou não? Foi para a estrada precisamente na altura em que passava
um carro…
-
Atropelou-a… - gemeu a Lulu.
-
Não, a condutora travou quase em cima da miúda.
-
Uf!
-
Mas essa não é o melhor da história…
-
não?!
-
Não! O melhor é que quem ia a conduzir o automóvel ia a falar ao telemóvel.
-
Com a breca…
Rissol
saltou, coçando a orelha.
-
Isso quer dizer: contra ordenação mas…por outro lado…apesar da infracção, essa
senhora estava mais atenta do que a outra.
Gigi
admoestou:
O
telemóvel é uma doença.
-
É um bem necessário mas as pessoas abusam. Sempre os excessos foram perigosos.
Internet, Facebook e outros palavrões das redes sociais…
-
É o progresso, menino Rubi. Estamos a modernizar-nos…
-
Este Lulu! Que tudo?
-
Olha, Rubi, por exemplo o novo acordo ortográfico.
-
Ai, esteticamente as palavras ficam tão lindas!
-
O que eu digo é que os políticos não têm competência para reestruturar o país
em todas as suas áreas e então…
-
Pois! E ao mesmo tempo, solidifica as suas relações com outros países…
-
Como…
-
O Brasil…
-
Vai-te lixar!... Portugal está cada vez mais pequenino, submergido na onda estrangeira
que investe e ganha enquanto o português emigra ou come e bebe ou passa fome.
Rissol
arrepia-se aos latidos de recriminação do Rubi.
-
Por toda a parte só se vê gastronomia, master chefe, produtos locais para os
que têm a bolsa recheada e o turismo para o estrangeiro, que esportula e não
bufa.
-
Cada um vive como quer…
-
Ou como o deixam…
Os
cinco caniches entreolham-se. Há um minuto de silêncio após o qual Jimmy
sussurra:
-
Vocês acham que estamos numa democracia?
As
opiniões divergem. Entre o “acho” e o “não acho”, Gigi comenta:
-
Bem… o poleiro já cá estava. Os galináceos são eleitos pelo povo que delegou
nos partidos a defesa dos seus interesses.
-
Mudemos de assunto senão ainda te denunciam como revolucionário. - protestou
Lulu.
-
Ah! Ah! Já lá vai o tempo dos “grandes males, grandes remédios”. Agora só temos
a liberdade de expressão.
-
Não me parece. Olha o que a campanha política exige aos órgãos da comunicação
social.
-
Estás parvo! Quem alinha nisso?
-
Todos! Isto é um país de carneiros. Até eu, cão com pedigree me sinto um pouco
acarneirado!
Todos
riram. Rubi continuou:
-
Se for votar, há-de ser no partido mais pequenino…
-
Eu, acho que vou de férias.
-
Eu vou para a praia. Tenho-a mesmo ao pé de casa. E tu?
-
Tusso e reclamo.
-
Está bem! Vais treinando para quando fores para a reforma!
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