segunda-feira, 13 de julho de 2015

Encontro de Caniches VIII


Quando os amigos se reuniram todos, Rissol disparou:
- Tenho uma história verídica para vos contar.
- Conta, conta.- disseram num eco.
Aí vai! Ia uma mulher por um passeio a falar ao telemóvel e levava uma miúda pela mão. Devia ser filha, não sei.
- Bem, não interessa!- interrompeu o Rubi.
- De repente, larga a mão da garota e pára, continuando com a animada conversa…
- …ao telemóvel! – acentuou Gigi.
- Claro! A criança, vendo-se solta, saiu do passeio e atravessou a estrada…
- Que horror! – interrompeu Jimy.
- Posso acabar ou não? Foi para a estrada precisamente na altura em que passava um carro…
- Atropelou-a… - gemeu a Lulu.
- Não, a condutora travou quase em cima da miúda.
- Uf!
- Mas essa não é o melhor da história…
- não?!
- Não! O melhor é que quem ia a conduzir o automóvel ia a falar ao telemóvel.
- Com a breca…
Rissol saltou, coçando a orelha.
- Isso quer dizer: contra ordenação mas…por outro lado…apesar da infracção, essa senhora estava mais atenta do que a outra.
Gigi admoestou:
O telemóvel é uma doença.
- É um bem necessário mas as pessoas abusam. Sempre os excessos foram perigosos. Internet, Facebook e outros palavrões das redes sociais…
- É o progresso, menino Rubi. Estamos a modernizar-nos…
- Este Lulu! Que tudo?
- Olha, Rubi, por exemplo o novo acordo ortográfico.
- Ai, esteticamente as palavras ficam tão lindas!
- O que eu digo é que os políticos não têm competência para reestruturar o país em todas as suas áreas e então…
- Pois! E ao mesmo tempo, solidifica as suas relações com outros países…
- Como…
- O Brasil…
- Vai-te lixar!... Portugal está cada vez mais pequenino, submergido na onda estrangeira que investe e ganha enquanto o português emigra ou come e bebe ou passa fome.
Rissol arrepia-se aos latidos de recriminação do Rubi.
- Por toda a parte só se vê gastronomia, master chefe, produtos locais para os que têm a bolsa recheada e o turismo para o estrangeiro, que esportula e não bufa.
- Cada um vive como quer…
- Ou como o deixam…
Os cinco caniches entreolham-se. Há um minuto de silêncio após o qual Jimmy sussurra:
- Vocês acham que estamos numa democracia?
As opiniões divergem. Entre o “acho” e o “não acho”, Gigi comenta:
- Bem… o poleiro já cá estava. Os galináceos são eleitos pelo povo que delegou nos partidos a defesa dos seus interesses.
- Mudemos de assunto senão ainda te denunciam como revolucionário. - protestou Lulu.
- Ah! Ah! Já lá vai o tempo dos “grandes males, grandes remédios”. Agora só temos a liberdade de expressão.
- Não me parece. Olha o que a campanha política exige aos órgãos da comunicação social.
- Estás parvo! Quem alinha nisso?
- Todos! Isto é um país de carneiros. Até eu, cão com pedigree me sinto um pouco acarneirado!
Todos riram. Rubi continuou:
- Se for votar, há-de ser no partido mais pequenino…
- Eu, acho que vou de férias.
- Eu vou para a praia. Tenho-a mesmo ao pé de casa. E tu?
- Tusso e reclamo.
- Está bem! Vais treinando para quando fores para a reforma!

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