Os
famigerados sacos de plástico
Rissol
esticou-se no tapete, bocejou e voltou a enroscar-se. Na realidade, estava uma
tarde insípida. Lulu tinha ido ao veterinário. Filó abalara com os donos para
uma estância na neve. Ah! Mas eis que chegavam os outros.
-
Começaram hoje! – atirou Gigi.
-
Começou, o quê? – perguntou Jimmy.
-
Os sacos de plástico vão ser comprados a partir de hoje
-
És uma anedota. Gigi! Os sacos já se pagavam. O preço vinha diluído no preço do
produto.
Rubi
esclareceu:
Agora
é x por saco. Ou arranjas outra solução.
Rissol
suspirou.
-
Eles têm de ir buscar dinheiro nem que seja aos bolsos rotos de um mendigo.
-
Com tantos problemas que o país tem por resolver… - disse Rubi.
-
Mas a ideia não era acabar com a poluição no ambiente, uma vez que os sacos são
difíceis de destruir?
-
É, Jimmy mas agora, os cujo ditos são mais aliciantes, são substancialmente
mais grossos; continuamos a divulgar a publicidade das empresas de forma
gratuita; o Estado arrecada milhões…
-
por via das taxas…
-
o povo, porque é comodista, refila mas consente…
-
e nós continuamos a contribuir para a poluição do ambiente. Fenomenal.
-
Gigi, os teus juízos são um portento.
-
São, não são?!
Rubi
ladrou.
-
Quer-me parecer que exageras. Os homens querem acabar com a crise…
-
Mas sem dar a mão à palmatória, sem experimentar a austeridade porque em quem
ganha muito, os cortes não são significativos.
Rissol
calou-se, cansado mas Jimmy proferiu, enfático:
-
Lembraste-me uma frase que ouvi não sei onde.
-
Qual?
-
Os pobres não têm quase nada para os ricos terem quase tudo.
-
Com a fortuna! Mas é que é mesmo. Afinal é a classe pobre que sustenta a classe
rica. São os sacrifícios exigidos aos pobres que salvarão a conjuntura
económica.
-
Salvarão ou não. Quando menos se espera, descobre-se. Ou é uma fuga ao fisco ou
uma lavagem de dinheiro ou um branqueamento de capitais…
-
Mas esses negócios obscuros só demonstram que a nossa pátria pariu grandes
inteligências de quem a História não terá francas reminiscências mas com quem
as redes sociais ganharão fartas audiências.
-
Deixa a ironia, Rubi.- repreendeu Rissol.
-
Irónico, irónico, é atirarem os sem abrigo para os “abrigos” dos metro e outros
em tempo de frio intenso.
-
Não foi genial a ideia? Deviam era acabar com essa vergonha. Toda a gente,
mesmo aquela sem recursos, merece uma vida de qualidade e dignidade.-
sentenciou Rubi.
-
Sabem que mais? Não adianta barafustar. Cão que ladra, não morde.
-
Até me ofendes! - Consegues fazer as duas coisas ao mesmo tempo?
A
esta máxima de Gigi, todos se enovelaram para dormir. Mas Rubi, de olho aberto
e focinho apoiado na pata, ainda comentou:
-
Enquanto nós dizemos: “porca miséria”, os do poleiro gozam “la dolce vita”.
Rissol,
a despedir-se, ainda alvitrou:
-
Afinal, a medida é para reduzir o consumo de sacos ou temos de pagar para
poluir o ambiente?
Sem comentários:
Enviar um comentário
Violar os Direitos de Autor é crime de acordo com a lei 9610/98 e está previsto pelo artigo 184 do Código Penal.
Por isso NÃO COPIE nenhum artigo deste blogue ou parte dele, sem dar os devidos créditos da autoria e sem colocar o link da postagem.
Muito obrigada!