quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

REFLEXÃO XVIII


Numa certa cidade portuguesa, não importa qual, vinha eu descendo uma das avenidas, repousadamente tranquila e, de certo modo, feliz por me cruzar com um número variável de pessoas, negros e brancos, alguns exóticos.
A subir o empedrado do passeio divisei um homem, vulgar, sem nada que despertasse a atenção, apenas o seu olhar fixo na minha direcção.
Fiquei intrigada mas continuei a andar como ele também avançou até se cruzar comigo. Nessa altura, roçou o braço pelo meu ombro e, curvando a cabeça, cuspiu no meu rosto.
E desapareceu.
O mais perturbador veio a seguir. Uma estranha, única, inolvidável sensação de paz invadiu todo o meu corpo, não uma paz convencional mas uma tranquilidade inebriante, uma sensação sem igual de felicidade diria mesmo, paradisíaca, expressiva e sábia.
É que no mesmo momento, pensei no ultraje que Jesus Cristo sofreu quando o centurião romano cuspiu na sua face. Era como se recebesse a mensagem divina: deixa, tem compaixão daquele que não soube o que fez.
Limpei a cara com um lenço de papel, tão discretamente quanto pude. Ninguém se apercebera. Eu tinha aprendido a ser diferente do comum, a não revoltar-me e a sentir sem orgulho que era incomensuravelmente mais rica em valores do que aquele cuja acção tinha ficado registada na esteira magnética do céu. Alguém presenciara e me incutira revelação e coragem. Não estava só. E o que acontecera, não era importante, porque há milénios atrás, um Homem superior suportara a mesma humilhação sem se exacerbar. Magnífica lição de magnanimidade, de imunidade.
Fecho este excerto com as frases que desejo que fiquem impressas na sua mente:

Você está sempre cercado por um mar de graças divinas.

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