Numa
certa cidade portuguesa, não importa qual, vinha eu descendo uma das avenidas,
repousadamente tranquila e, de certo modo, feliz por me cruzar com um número
variável de pessoas, negros e brancos, alguns exóticos.
A
subir o empedrado do passeio divisei um homem, vulgar, sem nada que despertasse
a atenção, apenas o seu olhar fixo na minha direcção.
Fiquei
intrigada mas continuei a andar como ele também avançou até se cruzar comigo.
Nessa altura, roçou o braço pelo meu ombro e, curvando a cabeça, cuspiu no meu
rosto.
E
desapareceu.
O
mais perturbador veio a seguir. Uma estranha, única, inolvidável sensação de
paz invadiu todo o meu corpo, não uma paz convencional mas uma tranquilidade
inebriante, uma sensação sem igual de felicidade diria mesmo, paradisíaca,
expressiva e sábia.
É
que no mesmo momento, pensei no ultraje que Jesus Cristo sofreu quando o centurião
romano cuspiu na sua face. Era como se recebesse a mensagem divina: deixa, tem
compaixão daquele que não soube o que fez.
Limpei
a cara com um lenço de papel, tão discretamente quanto pude. Ninguém se
apercebera. Eu tinha aprendido a ser diferente do comum, a não revoltar-me e a
sentir sem orgulho que era incomensuravelmente mais rica em valores do que
aquele cuja acção tinha ficado registada na esteira magnética do céu. Alguém
presenciara e me incutira revelação e coragem. Não estava só. E o que
acontecera, não era importante, porque há milénios atrás, um Homem superior
suportara a mesma humilhação sem se exacerbar. Magnífica lição de magnanimidade,
de imunidade.
Fecho
este excerto com as frases que desejo que fiquem impressas na sua mente:
Você está sempre cercado
por um mar de graças divinas.
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