-
Meninos! Trago notícias fresquinhas… - saudou o Gigi.
-
A demissão do Governo. – lançou o Rissol.
-
Isso é que era doce. – tornou o Gigi.- Então a receita aumenta e a despesa
também, julgas que eles dão a mão à palmatória? Têm que justificar o défice…
-
Mas que notícias fresquinhas são essas? – perguntou o Jimmy.
-
Vai ser promulgada uma lei que sanciona os donos de animais de companhia que os
abandonam. E se querem férias, devem salvaguardar o nosso bem-estar. – informou
o Gigi.
Filo
abespinhou-se:
-
Não resulta. Eles arranjam sempre forma de se escaparem, de se livrarem de
multas pesadas. Arranjarão sempre maneira de se descartarem de nós, fazendo
desaparecer a nossa identidade. Rissol, não dizes nada?
-
O ser humano é das existências mais ignorantes que se possa imaginar. O que
descobre… o que descobre, sim, porque inventar não inventa nada, é tudo para
acabar em seu prejuízo.
-
Não é bem assim… - discordou Filo.
-
Não? Tudo o que aparece de novo, é usado até à exaustão, Um flagelo. Por
exemplo, os telemóveis. Provocaram a epidemia da “telemovite”.
Lulu
riu.
-
Ris-te?
-
Rio. Vai ser aplicada uma taxa…
-
Isso é como os cigarros. Quanto mais aumentam de preço, mais se vendem.
-
Por falar em tabaco, lá em casa deu entrada triunfal a seringa eletrónica.-
Lulu
coçou a orelha e ouviu a reprimenda da dona:
-
Quieta, Lulu. A menina tomou banho!
-
Viram? – queixou-se Lulu. – Connosco é tudo imperdoável. Vais a alguma passagem
de modelos?
Jimmy
mudou de posição.
-
Vocês têm razão mas há uma coisa que eu julgo insuportável.
-
O quê? – perguntaram todos à uma.
-O
barulho.
-
O barulho?
-
Sim. A juventude só sabe gritar. Os rapazes e raparigas nos espetáculos
musicais de que são adeptos, berram como endemoninhados, perdem as estribeiras,
bebem álcool, consomem…pobre mocidade…com uma vida tão risonha pela frente…
-
Risonha? Em que planeta é que vives?
-
Gigi interrompeu:
Temos
de ter esperança…
-
Em quê? Em quem?
-
Em ti próprio? E mesmo que a tenhas, se não procurares outros horizontes, bem que
podes dizer adeus aos teus sonhos.
A
afirmação saíra da boca de Filo.
-
Em que pensas, Rubi?
A
pergunta surgira de Jimmy.
-
No caos em que está este país. Vejam só: Milhares de professores por empregar,
turmas sem professores. Encerramento de tribunais, inevitável estagnação dos
processos. Redução dos centros e serviços de saúde, volume maior de utentes,
falta de médicos e enfermeiros…
-
Estes vão para fora onde têm melhores condições de futuro… - interpôs Gigi.
-
Continuando, o sector das pescas, artesanal e sem progresso, nem falam em
reforma, como deixaram cair a reforma agrária, como se estão nas tintas para os
estivadores, como se abandonou a perspetiva de reabrir estaleiros… Não há
dinheiro.
-
Não há? – admirou-se Rubi. Só ouço falar em milhões!
-
A colheita dos milhões resulta da fraude fiscal e dos cortes.
O
juízo foi do Rissol que terminou:
-
As sindicais bem se esforçam… mas não vencem. É tudo fogo-fátuo.
-
No outro regime, um só, com todas as pastas e vê se a crise fez assim feridas… quando
a houve.
-
Porque o povo consumia menos. Também houve racionamento.
-
Eu acho que a crise é um disfarce! – replicou o Filo.
-
Para quê?
-
Para uns encherem os bolsos à custa dos bolsos vazios dos outros.
Jimmy
mudou de conversa.
-
Lá em casa só se fala nas “primárias”. Em qual dos dois recaem as vossas
simpatias?
-
Para mim… nenhum dos dois. São ambos gordinhos. – opinou a Lulu.
-
Pois lá em casa, a prioridade é comprar a nova “consola” ao catraio para que os
deixe em paz. – objetou o Rubi.
-
A tua dona não é empregada pois não?
-
Achas?... Se o marido tem três…
-
Se assim é…
-
E quando ele sair do Governo, ainda arranja mais um!
-
Céus! Quanto valem os estudos… - lastimou-se o Rissol.
-
Eu diria, quanto vale a esperteza, a argúcia de cada um, no jogo do gato e
rato.
Rubi
suspirou.
-
Vêm amanhã? – quis saber Jimmy.
-
Não! – respondeu Gigi por eles todos. – Vai ter lugar um chá de caridade e nós
não podemos estar presentes.
-
Caridade?... Caridade por quem?
-
Então…
Gigi
estava embaraçado.
-
Então, têm oportunidade de mostrar o novo vestido. as novas jóias, o
contributo, o estatuto conjugal…
-
E isso é caridade?
Filo
interrompeu:
-Pois!
Há sempre uma que diz com voz de falsete: Este vestido… querida, …hi! Já o
tenho há que séculos!
-
E todos fingimos e todos respiramos aliviados.
-
E o dinheiro conseguido? Sim, porque as entradas e a despesa…
-
Isso, vai para o “orçamento retificativo”. Bye-bye!
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