Tenho
silenciado sobre este tema porque me é infinitamente doloroso evocar situações
em que vidas foram ceifadas em plena juventude, por pura negligência social.
Não
as podemos trazer de volta mas talvez a realidade e o desfecho dos factos
evitem que estes casos se repitam.
No
meu tempo da Universidade, as praxes eram muito alegres e o divertimento era
saudável sem atemorizar os “caloiros”. As raparigas não entravam no hábito da
praxe mas os rapazes eram obrigados a obedecer às invenções dos “quartanistas”
e outros de grau superior. Todavia, as práticas regiam-se pela inovação,
simplicidade, grotesco e criações teatrais que, muitas vezes, caíam no
ridículo.
O
praxado podia sofrer no seu orgulho mas os atos eram inofensivos e nunca
afetavam a integridade física do jovem. Se, por qualquer razão, este se
sentisse molestado, pedia a intervenção de uma “madrinha”, escolhida para sua
defesa em momentos críticos.
Lembro-me
de uma das cenas em que a “vítima” foi destacada para medir a ponte de Santa
Clara, em Coimbra, com fósforos ou palitos, conforme mais apreciasse. Muitos
destes novatos do ensino superior passearam aos domingos, nos jardins e parques
da cidade, com “turbantes” na cabeça improvisados de toalhas turcas, de banho.
Havia
alturas em que se improvisavam “audiências judiciais” em que o “réu”, sentado
num sanitário, prestava depoimento perante um “tribunal” inofensivo.
Nunca
se ouviu que pusessem em risco ou tivessem desagradáveis consequências, estas
formas de brincar jogando com o sério. Muito menos, desafiando vidas humanas,
como que uma camuflagem de crime premeditado.
A
não ser assim, que chamar aos “veteranos”, aos “doutores”, aos “duxes”?
Irresponsáveis?
Infantis? “Alienados mentais”? “Sádicos”?
Nestas
atividades, de há muito se verificavam barbaridades, como as que a comunicação
social divulgou. Rituais de mau gosto, de cujas desastrosas consequências
ninguém suspeitou, antes revelaram a precariedade de inteligências perversas.
Mas
foi sempre cómodo deixar passar… desde que passe ao largo.
Por
outro lado, não devemos criticar os estudantes que, assinando um termo de
responsabilidade, tinham a prerrogativa de desistir. O desafio que se faz à
nossa personalidade, a confiança nos mais velhos, que deveriam ter consciência
cabal das suas diretivas, a vitória por iniciativas ultrapassadas que valorizam
o mérito, levam-nos a desculpar os jovens para quem o futuro parecia sorrir.
Não
tenhamos a Universidade Lusófona por inocente. Onde param os superiores
hierárquicos?
Que
tipo de considerações inspiraria Fernando Pessoa, neste episódio?
E
a solução qual é?
Que
a consciência da sociedade em que vivemos, se interrogue e se culpe. Só assim,
respeitaremos a tragédia, evitando que se repitam dramas como estes.
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