1
de Maio
Foi
tempo em que o proletário teve o direito de comemorar as conquistas da sua luta
contra as exigências despóticas de um patronato despido de ideias liberais, direitos,
liberdades e garantias que conseguiram os homens e mulheres escravizados por um
trabalho insano e salário de miséria.
O
sistema fascista, a ditadura, cedeu o lugar às liberdades democráticas.
Quando
o desemprego grassa em grandes proporções num país em “vias de
desenvolvimento”, como nos querem fazer crer, não sei o que comemorar no dia 1º
de Maio.
O
poder absoluto de um governo que não evita a crise económico-financeira das
famílias?
Que
muda de secretariado com a mesma desfaçatez com que os militantes partidários
“mudam de casaca”?
Mudemos
então o título para Dia do Desempregado.
Comemoremos a falta de poder de compra dos agregados domésticos; o encerramento
das empresas; o aumento das taxas e dos impostos; os cortes nos recursos e
receitas; a privação de bens essenciais, o fantasma da austeridade.
Até
quando?
Porque
há sempre alguém que beneficia com a crise…talvez até quando as algibeiras
estiverem bem cheias e as barrigas, de certos vultos da nossa politiquice que,
para além de ostensiva, dá o dito por não dito; promete mas não cumpre; o seu
trabalho é sem horário mas não se vêem medidas concretas.
Lembremos
tudo isto para celebrar um dia que se esvaiu no passado, porque hoje, o
trabalhador, esbulhado de tudo, vive à deriva sob o jugo dos sem escrúpulos.
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Recebi
de presente, um maço de “cigarros”. Não são vinte cigarros vulgares. Cada um
tem enrolado ao seu tubo um poema. Ainda assim, seria um presente apenas
curioso se não tivesse na caixa, a foto de Che Guevara, o homem que morreu pela
liberdade e pelos direitos humanos.
Tiro
um cigarro ao acaso.
A
Colmeia
de J. Rosemblatt
(Canadá)
Não
creio em fantasmas
embora
os cirurgiões transplantem um coração vivo
para
a cavidade torácica de um morto,
uma
laranja sumarenta como um punho,
um
novo mecanismo de relojoaria.
Mas
para um coração baleado
não
há transplantação se é marxista.
Os
vermes assassinaram o tigre. Che está morto.
Também
enfrentaremos em tempo o colmeeiro,
os
que discorrem com passos leves
atrás
dos alvéolos da colmeia
ouvirão
um hino de abelhas carpinteiras
cuja
canção de forja
é
liturgia de balas explosivas.
Sepultaram
em lugar ignoto o pó do Che
tremendo
como monges que ocultam rádio santo
aos
olhos de chumbo dos povos.
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Não
resisto a fumar outro cigarro.
Elegia
das Águas Negras Para Che Guevara
de Eugénio de Andrade
(Portugal)
Atado
ao silêncio, o coração ainda
pesado
de amor, jazes de perfil,
escutando,
por assim dizer, as águas
negras
da nossa aflição.
Pálidas
vozes procuram-te na bruma;
de
prado em prado, procuram
o
potro mais livre, a palmeira
mais
alta sobre o largo, o barco talvez
ou
o mel entornado da nossa alegria.
Olhos
apertados pelo medo
aguardam
na noite o sol do meio-dia,
a
face viva do sol onde cresce,
onde
te confundes com os ramos
de
sangue do verão ou o rumor
dos
pés brancos da chuva nas areias.
A
palavra, como tu dizias, chega
húmida
dos bosques, temos que semeá-la;
chega
húmida da terra: temos que defendê-la;
chega
com as andorinhas
que
a beberam, sílaba a sílaba, na tua boca.
Cada
palavra tua é um homem de pé;
cada
palavra tua
faz
do orvalho uma faca,
faz
do ódio um vinho inocente
para
bebermos contigo
no
coração em redor do fogo.
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Se
você fuma desta marca, tire um.
Guevara
de Miguel Torga
(Portugal)
Não
choro, que não quero
manchar
de pranto
um
sudário de força combativa.
Reteso
a dor e canto
a
tua morte viva.
A
tua morte morta
pelo
próprio terror em que ficaram
à
sua frente
aqueles
que te mataram
sem
poderem matar o combatente.
O
combatente eterno que ficaste
ressuscitado
na
voluntária crucificação.
Herói
a conquistar o inconquistado,
já
sem armas na mão.
Quem
te abateu, perdeu a guerra santa
da
liberdade.
Faz
brilhar na manhã do mundo inteiro
um
sol de redentora claridade,
o
teu rosto de Cristo guerrilheiro.
in Diário,
X vol.
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Se
você se delicia com este “aroma” , não se importe com o vício. Tire mais um
cigarro. Lute pelos seus direitos.
Ídolos,
Não
de Raquel
Jodorowsky (Peru)
Quero
viver com os vivos, não com os mortos
Quer
dizer:
com
as obras que os mortos deixaram
e
não com as suas enormes fotografias
na
parede.
O
que vive
é
a palavra do morto.
Devemos
permitir que a sua imagem
desapareça
suavemente
e
se transforme em outra matéria.
Deixo
de crer nos grandes ideais
quando
convertem em comércio
o
olhar insuportável
dos
seus mortos
demasiado
venerados
em
cartazes e almofadas.
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