quarta-feira, 1 de maio de 2013

Dia do Trabalhador



1 de Maio


Foi tempo em que o proletário teve o direito de comemorar as conquistas da sua luta contra as exigências despóticas de um patronato despido de ideias liberais, direitos, liberdades e garantias que conseguiram os homens e mulheres escravizados por um trabalho insano e salário de miséria.
O sistema fascista, a ditadura, cedeu o lugar às liberdades democráticas.
Quando o desemprego grassa em grandes proporções num país em “vias de desenvolvimento”, como nos querem fazer crer, não sei o que comemorar no dia 1º de Maio.
O poder absoluto de um governo que não evita a crise económico-financeira das famílias?
Que muda de secretariado com a mesma desfaçatez com que os militantes partidários “mudam de casaca”?
Mudemos então o título para Dia do Desempregado. Comemoremos a falta de poder de compra dos agregados domésticos; o encerramento das empresas; o aumento das taxas e dos impostos; os cortes nos recursos e receitas; a privação de bens essenciais, o fantasma da austeridade.
Até quando?
Porque há sempre alguém que beneficia com a crise…talvez até quando as algibeiras estiverem bem cheias e as barrigas, de certos vultos da nossa politiquice que, para além de ostensiva, dá o dito por não dito; promete mas não cumpre; o seu trabalho é sem horário mas não se vêem medidas concretas.

Lembremos tudo isto para celebrar um dia que se esvaiu no passado, porque hoje, o trabalhador, esbulhado de tudo, vive à deriva sob o jugo dos sem escrúpulos.

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Recebi de presente, um maço de “cigarros”. Não são vinte cigarros vulgares. Cada um tem enrolado ao seu tubo um poema. Ainda assim, seria um presente apenas curioso se não tivesse na caixa, a foto de Che Guevara, o homem que morreu pela liberdade e pelos direitos humanos.
Tiro um cigarro ao acaso.



A Colmeia

de J. Rosemblatt    (Canadá)


Não creio em fantasmas
embora os cirurgiões transplantem um coração vivo
para a cavidade torácica de um morto,
uma laranja sumarenta como um punho,
um novo mecanismo de relojoaria.


Mas para um coração baleado
não há transplantação se é marxista.
Os vermes assassinaram o tigre. Che está morto.
Também enfrentaremos em tempo o colmeeiro,
os que discorrem com passos leves
atrás dos alvéolos da colmeia
ouvirão um hino de abelhas carpinteiras
cuja canção de forja
é liturgia de balas explosivas.


Sepultaram em lugar ignoto o pó do Che
tremendo como monges que ocultam rádio santo
aos olhos de chumbo dos povos.

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Não resisto a fumar outro cigarro.


Elegia das Águas Negras Para Che Guevara

de Eugénio de Andrade  (Portugal)


Atado ao silêncio, o coração ainda
pesado de amor, jazes de perfil,
escutando, por assim dizer, as águas
negras da nossa aflição.


Pálidas vozes procuram-te na bruma;
de prado em prado, procuram
o potro mais livre, a palmeira
mais alta sobre o largo, o barco talvez
ou o mel entornado da nossa alegria.


Olhos apertados pelo medo
aguardam na noite o sol do meio-dia,
a face viva do sol onde cresce,
onde te confundes com os ramos
de sangue do verão ou o rumor
dos pés brancos da chuva nas areias.


A palavra, como tu dizias, chega
húmida dos bosques, temos que semeá-la;
chega húmida da terra: temos que defendê-la;
chega com as andorinhas
que a beberam, sílaba a sílaba, na tua boca.


Cada palavra tua é um homem de pé;
cada palavra tua
faz do orvalho uma faca,
faz do ódio um vinho inocente
para bebermos contigo
no coração em redor do fogo.

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Se você fuma desta marca, tire um.


Guevara

de Miguel Torga  (Portugal)


Não choro, que não quero
manchar de pranto
um sudário de força combativa.
Reteso a dor e canto
a tua morte viva.


A tua morte morta
pelo próprio terror em que ficaram
à sua frente
aqueles que te mataram
sem poderem matar o combatente.


O combatente eterno que ficaste
ressuscitado
na voluntária crucificação.
Herói a conquistar o inconquistado,
já sem armas na mão.


Quem te abateu, perdeu a guerra santa
da liberdade.
Faz brilhar na manhã do mundo inteiro
um sol de redentora claridade,
o teu rosto de Cristo guerrilheiro.


in Diário, X  vol.


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Se você se delicia com este “aroma” , não se importe com o vício. Tire mais um cigarro. Lute pelos seus direitos.



Ídolos, Não

 de Raquel Jodorowsky  (Peru)


Quero viver com os vivos, não com os mortos
Quer dizer:
com as obras que os mortos deixaram
e não com as suas enormes fotografias
na parede.
O que vive

é a palavra do morto.
Devemos permitir que a sua imagem
desapareça suavemente
e se transforme em outra matéria.
Deixo de crer nos grandes ideais
quando convertem em comércio
o olhar insuportável
dos seus mortos
demasiado venerados
em cartazes e almofadas.


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