1943-2013
24
horas.
O
silêncio da noite é um veludo negro que penetra na alma e a enriquece de
pequenas estrelas que cintilam ao longe na imensidade do desconhecido. Cada uma
pode ser uma reminiscência.
Na
linha do horizonte, a minúscula silhueta de um barco de pesca é um recorte
luminoso sobre a superfície da água.
Tudo
eu sinto perfeito.
Também
o vidro da janela é transparente, completando a harmonia deste intervalo nos
meus pensamentos.
A
meu lado, sobre a mesa do computador, avulta a revista Novas de Alegria e eu
não posso deixar de recordar o meu encontro com ela, há uns 17 anos, época em
que nenhuma leitura de carácter religioso me cativava.
Ainda
hoje, decorrido todo este tempo, não consigo explicar as condições estranhas em
que este periódico me veio parar às mãos. Eu tinha acabado de entrar em casa,
rodado a chave na fechadura do meu quarto, que conservava fechado durante o
dia, e levantado as persianas, o meu olhar foi atraído para um objecto
rectangular pousado em cima da cama. Intrigada, procurei lembrar-me de algum
pormenor que esclarecesse o modo como fora ali colocada uma brochura que eu nem
sequer conhecia. Interroguei toda a gente da família, apesar de saber que
ninguém tinha acesso àquele compartimento e a negativa geral aumentou mais a
minha confusão.
Teria
sido fácil metê-la por debaixo da porta, mesmo que a capa se enrodilhasse. Não.
Estava cuidadosamente assente sobre a colcha.
Quando
me deitei, reclinei-me entre almofadas e, perturbada ainda, iniciei o meu
primeiro contacto com a ficha técnica e a seguir, com o sumário. Depois comecei
a ler.
Terminei
o último texto às quatro da madrugada.
Novas
de Alegria, denominada com um título original e apelativo, era de formato mais
reduzido do que o que possui actualmente. Publicava artigos acessíveis a todas
as inteligências. Inspirava popularidade. Mostrava uma particularidade
interessante. As suas páginas continham prosa simples, educativa, sugestiva. E
introduzia com frequência poesia, de verso livre ou rimada, mas que não deixava
de ser apreciada na sua versatilidade sedutora.
NA
adquiriu, com a mudança do executivo, uma personalidade diferente, de conteúdo
mais erudito, mais “austero” e creio que destinada a uma certa plêiade de
leitores. De aspecto gráfico elegante e atraente, continua a poder regozijar-se
de prosseguir a sua jornada de evangelização e ensino interpretativo da Bíblia
Sagrada e, nessa conformidade, vai conquistando a sua coroa de glória.
E
porque assim o entende o Senhor, NA comemora, nesta data, o seu septuagésimo
aniversário. 840 meses. Em 840 vezes, uma em cada mês, ela foi fruto de um
esforço conjunto, de um carinho profundo, de uma entrega absoluta, de uma
dedicação extrema. Por isso, alcançou o seu septuagésimo percurso com mais uma
vitória, pela bênção do Senhor, que a conduziu.
Felicito
a NA por esta data feliz e felicito-me por a ter encontrado, reservando para a
sabedoria do Senhor a decifração do mistério que rodeou o meu encontro com uma
publicação que não se exime a irradiar a sua fonte de luz e de orientação.
Nota apêndice:
Festeja
este ano, em edição especial e requintada, os seus 70 anos de existência, a
revista evangélica na, “Novas de
Alegria”, propriedade da Convenção das Assembleias de Deus em Portugal e
divulgada ao público pela Capu, Ldª,
Casa Publicadora da mesma conceituada instituição religiosa.
Fundada
em 1943, conheceu vários Directores, passou por vários Executivos e
experimentou algumas transformações e metamorfoses mas manteve sempre uma linha
coesa com os valores morais e cívicos, tendo como baluarte o Evangelho e como
impulso histórico a Bíblia Sagrada.
As
circunstâncias estranhas em que ocorreu o meu encontro com esta Revista nunca
foram esclarecidas: há domínios em que o homem não penetra, não tem essa
permissão.
A
partir daí, a minha colaboração, quer com prosa quer com poesia, sem ser muito
assídua, vestiu uma nova roupagem inspirada nos textos do VT e NT, lidos com
extrema atenção e com uma curiosidade sempre crescente.
É
esta leitura cuidada, atenta e persistente que nos leva a perceber como se
constrói a felicidade humana e como certas realidades tidas como importantes,
são supérfluas.
O
meu contacto com “Novas de Alegria” não originou apenas a criação de vários
trabalhos de carácter mais espiritual que intelectual mas uma percepção
intuitiva da essência universal dos padrões de Jesus Cristo, como Homem e como
Filho de Deus… como nós somos.
S´0
que Ele mereceu ser assim chamado. Homem e Filho de Deus. Nós, nem uma coisa
nem outra.
Senti-me
muito honrada pelo convite que me foi feito e de bom grado, me associei à celebração
deste auspicioso evento com o trecho que precede esta nota e foi publicado no
exemplar deste mês de Janeiro.
Daqui,
reformulo os meus sinceros votos de sucesso e prosperidade sempre crescentes
para a Revista e seus cooperadores, convidando as pessoas a se debruçarem sobre
esta leitura com o propósito de aprender, descobrir e compreender que em todos
os momentos do nosso quotidiano, a mensagem de Cristo se salienta para que
conheçamos o fim para que fomos criados e para que as nossas quedas não sejam
tão frequentes.
Aurora Santos
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