terça-feira, 1 de janeiro de 2013

ALEGORIA DO ANO NOVO




por José dos Santos Marques


Mais um ano que tomba sem deixar saudades e outro que desponta sob maus auspícios e circunstâncias trágicas. Tenhamos fé, porém, e mau grado todas as sombrias perspetivas, no velho adágio popular “Ano Novo, vida nova”. Oxalá assim seja, realmente; e as nuvens negras que pairam no ar se esfumem na atmosfera, levadas pela brisa.
Tenhamos fé numa compreensão mais profunda entre os homens e que na Terra se implante um novo amor.
Tenhamos fé em que o tremendo egoísmo e a torpe maldade que desenfreadamente campeou no Mundo durante este ano que ilacrimavelmente morreu, esgotado, assustadoramente vazio, tão velho e tão carregado de ódio e traições que quase não pôde caminhar até ao fim, desapareça da tace desta Terra que ele deixou ignescente e enlutada, transbordante de angústia e desespero. E se mais um ano vier de vicissitudes, pusilanimidades, descrenças, lutas sem finalidade, de interesses em jogo que se redimem à custa das maiores vilanias, de sangue e de lágrimas; e se mais um ano vier onde a palavra e a honra andem mais baixo do que a lama e mais conspurcadas e nojentas do que uma vida viciosa e reles, tenhamos ainda fé nos homens, acreditemos ainda neles e no seu destino. Acalentemos em nossos corações a esperança de que de bom e simples, de humilde e de esplendorosamente grande existe nos homens prevalecerá um dia, ainda que o caminho fique juncado de corpos em holocausto.
Tenhamos a firme e consoladora certeza de que as Mães de todo o Mundo deixarão de chorar os filhos que a metralha trespassou nas ruas ou nos campos de batalha quando buscavam a liberdade. Tenhamos a esperança de que essas Mães saberão doravante defender a vida de seus filhos tão vilmente ultrajada e posta em jogo, mas que, apesar de tudo, a honra enalteceu e glorificou. Tenhamos fé que nas costas dos homens deixarão de cravar-se traiçoeiros punhais. Tenhamos como certo que a Razão e o Direito hão-de algum dia prevalecer na Terra. Que será do Homem se algum dia perder para sempre todas as esperanças?
Alberguemos a aurifulgente ideia de que as crianças terão uma forma mais adequada a uma vida sem egoísmos e sem rastejamentos, sem ódios e vilanias, onde não falte o pão de cada dia. Tenhamos fé em que as crianças sejam simplesmente crianças, para que os homens possam vir a ser apóstolos.
Pensemos que a personalidade de cada um há-de ser amada e respeitada por todos.
Haverá, então, ANO NOVO, FELIZ ANO NOVO!
Os cromos de Boas-Festas, tão lindos e vistosos, cheios de dourados e de beatifica neve, multicoloridos, deixarão de ser meros embaixadores de cortesia e ganharão um diferente e mais profundo significado.
A Paz, apregoada e defendida por Cristo, encontrará, finalmente, os seus executores e terá o seu real sentido humano.
Os ídolos voltarão a ser Pasteur, Fleming, Curie, Mendel, Faraday, Nansen, Pestallozzi, Nightingale, Zola, Bell, Montessori, São Francisco, Helen Keller, Whitman, Kipling, Tagore, Vítor Hugo, Miguel Ângelo, Leonardo, Van Gogh, Platão, Erasmo, Beethoven, Egas Moniz, Chopin, Mozart, Galileu, Darwin, Einstein, Ataturk, Marconi, Lincln, Junqueiro, Sun-Yat-Sem e tantos, tantíssimos outros a quem a Humanidade deve o seu progresso e a sua glória.
O nosso espírito estará mais aberto à compreensão. A nossa vida será mais tranquila. Não recearemos traições e poderemos dedicar-nos, exclusivamente, ao avanço e grandeza da Humanidade. Os homens deixarão de envelhecer precocemente e a mocidade tornar-se-á alegre, serena, feliz, profundamente interessada nos problemas cuja solução traga o bem estar para a Humanidade.
A justiça ganhará uma nova interpretação e passará a ser igual para todos os homens e será, acima de tudo, justa, imparcial. Custa-nos conceber a ideia de que assim, verdadeiramente, não tenha sido até agora, mas temos que admiti-lo.
Nosso hino de boas vindas ao Ano Novo ganhará, então, uma sonoridade diferente, uma maior e mais plácida harmonia musical e o Sol raiará num céu límpido, azul, suavemente azul.
Façamos todos, começando cada um de nós por si próprio, com que este ano de 1962 seja, realisticamente, um Ano Novo!


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