24 de Dezembro de 1991
Um ano capicua que anunciou
felicidade.
Foi como um repicar de sinos.
Nasceu e encantou toda a gente. Veio numa data especial, tinha de ter
personalidade muito peculiar; tinha de ser especial.
Desde bebé que acompanho o seu
crescimento, a sua evolução. Quando começou a falar fluentemente, evidenciou-se
logo pelos comentários inteligentes e judiciosos com que classificava os
factos. Em situações vulgares seu quotidiano infantil ou em convívio com os
“mais crescidos” – assim chamava aos adultos – respondia sempre com uma
daquelas frases fenomenais que impedia qualquer outra argumentação.
Não resisto a relatar alguns
episódios jocosos, fruto da sua imaginação poderosa e fértil.
Sem saber equilibrar-se ainda na
sanita, a mãe mantinha-se presente.
- Então, Daniel? Demora assim
tanto?
Ouviu-se um “cloc”.
- Tão pequenino, Daniel? –
insistiu a mãe, preocupada.
- Amanhã, chegam os pais! –
respondeu, prontamente.
Num certo dia, a mãe veio com um
livro de desenhos para que os pintasse.
- Pinta tu, mãe!
Tu é que deves exercitar-te para
quando fores para a escola… E mesmo, mais tarde, poderes ensinar os teus
filhinhos.
- Calma aí! Eu não quero filhos.
Só me chateiam.
Houve uma altura em que Daniel se
deteve, o queixo apoiado na mão e o cotovelo fincado na mesa.
Passando, a avó perguntou-lhe:
- Que estás a fazer?
- Estou a pensar.
Minutos decorreram e estranhando
aquela imobilidade num garoto tão esfusiante e alegre, a avó voltou a
perguntar:
- Ainda estás a pensar?
- Pois! Eu sou um “pensagem”…
Enquanto Daniel comia com a sua
mãozita inexperiente a papa de Nestum que tanto gostava a mãe explicava-lhe as
vantagens para o crescimento de um cereal como aquele.
- Vez Daniel, tem ferro! –
acrescentou ela.
- O ferro não se come! –
obtemperou Daniel com toda a ênfase.
Num passeio com a avó, que o
levou a ver a chegada e partida dos comboios, ao regressarem, atravessando a
ponte, Daniel tem um ataque de tosse.
Inquieta, a avó pergunta-lhe:
- Que tosse é essa?!
- É minha!
A mãe anotou sempre num caderninho
as respostas do pequenino que, não somente desenvolveu desde muito cedo, as
técnicas da fala como demonstra possuir um discernimento demasiado audacioso
para tão tenra idade. Isso fazia dele uma criança encantadora.
De tal modo que recordo uma vez
as suas pequenas mãozinhas segurando dois telemóveis, convicto de serem os
comandos do carro. A mãe corrigiu e a criança repetiu:
- … televobem…
- Estás a trocar as letras,
Daniel.
Com o polegar e o indicador, o
miúdo revirou o lábio superior, dizendo:
- Isto distraiu-se, e eu não
consegui dizer…
E tentou virar o lábio de dentro
para fora.
Mais uma vez estava a mãe com o
Daniel no quarto de banho quando ouvem o pai a entrar. O Daniel pediu à mãe que
dissesse ao pai que naquele dia ele estava bem disposto. O pai respondeu algo
não muito percetível. E a mãe perguntou-lhe:
- O que foi que ele disse?
- Não sei! O pai não corta a
barba, eu não percebo nada!
Poderia recordar mais respostas,
a sua verve pitoresca, a forma inocente e espontânea com que analisava os
acontecimentos mas opto por finalizar com um episódio em que participou uma das
suas tias que se queixava com sede. - Preciso de matar a sede. – desabafou ela.
- A sede não é amiga?
Com a ingenuidade dos seus três
anos, analisava com evidente sagacidade, utilizando conceitos característicos
da sua personalidade incomum.
Quando estudante, embora
cumprisse os deveres escolares, tinha manifesta aversão pelos compêndios. Tudo
quanto ouvia dos professores fixava. Tal forma de ser e de aprender causavam-lhe
alguns dissabores com as pessoas que não acreditavam que tão pouco labor
prático fosse suficiente para vencer o ano letivo. A verdade é que os vencia.
Hoje, Daniel é um belo rapagão,
alegre e folgazão. O tempo amadureceu-o, talvez ande à frente da idade mas o
seu sentido de humor prevalece, o que faz da sua companhia um ótimo elemento de
conversação e de diversão. Adora andar de patins e continua apaixonado pela figura
do Sonic, uma personagem da sua primeira consola de jogos.
Considera o trabalho uma “instituição”
sagrada e jamais aproveita uma falta para a usar sem ser em proveito da
entidade patronal, facto que lhe tem reservado os maiores encómios.
Quando olho de alto abaixo, este
jovem que embalei e a quem tantas vezes mudei a fralda e se me desenha um
perfil alto e forte, de barba cortada com arte e cabelo de “rabo de cavalo”, um
sentimento de orgulho e gratidão me inunda quase até às lágrimas. Para as
evitar – Daniel reserva a comoção para si – envolve-me num apertado abraço e o
horizonte parece iluminar-se.
È que tanto ele como eu guardamos
na memória e no nosso coração, as nossas “aventuras de piratas”, na gruta do
Senhor da Pedra, contra imaginários inimigos que vinham do mar.
O mar, cujas ondas deslizavam até
aos nossos pés e cujas ondas eram o “troar do canhão”.
A vitória” era nossa e a merenda
que nos esperava, também.
Belos intervalos de vida sem
preocupações.
O meu desejo é que gozes muitos
momentos felizes como estes e conserves em todo o teu percurso diário, essa
capacidade jovial e única que revela à discrição, a beleza e integridade do teu
excelente caráter.
Muitos parabéns, Dany, meu herói!
Daniel, meu sobrinho adorado. Desde sempre um sentimento muito forte nos uniu e hoje ainda recordo com mágoa o tempo em k tua mãe te impedia de me falares e tu a socapa vinhas me dar um beijinho quando me vias passar...
ResponderEliminarTenho um orgulho tremendo em ti e no Homem k te tornaste. Mantem-te sempre assim.
Beijinhos doces da titia k te ADORA!
Concordo absolutamente contigo. Daniel é uma honra e motivo de orgulho para a família. Desejo que sirva de exemplo para certos elementos do nosso clã, que parecem esquecer donde provêm. Ele faz parte desta “juventude universal”, de que fala o Pintor e Poeta Francisco Lezcano, juventude essa que salvará a humanidade. É corajoso, sensato, responsável, inteligente e, acima de tudo, um ótimo gestor da sua vida diária. Oxalá te compreendam como tu compreendes e justificas os erros dos outros. Bem hajas por teres nascido. Todos te adoramos.
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