1 de Novembro de 2012 – Dia dos
Finados
2 de Novembro de 2012 – Dia de
Todos os Santos
Estas datas homenageiam aqueles
que já não pertencem ao número dos vivos. Têm a mesma conotação: finados,
santos, servos de Deus. Associamos-lhes flores, castiçais, velas, sepulturas,
cheiro a cera.
Estes dias trazem muita tristeza
em si.
Nem que seja uma vez ao ano, é
nesta altura que se lembram os que partiram, de forma mais ostensiva e se
engalanam os cemitérios. Eu aprecio muito o sentido estético de algumas “últimas
moradas”, os mausoléus e jazigos de família mas não concordo nem um bocadinho
com o aparato, embora respeite o sentimento e a tradição das famílias.
Como disse, afligem-me os
cemitérios mas confesso que passei muitas tardes, olhando os retângulos de mármore,
sentada num banco, porque era o sítio ideal para estudar em silêncio,
concentrada longe do bulício dos cafés e da algaraviada dos colegas, sem
ninguém a incomodar-me.
Sentia até uma certa paz, uma
certa leveza, como se a ténue fragrância que se evolava em toda a atmosfera,
viesse daqueles seres inanimados, espiritualmente comunicativos.
Os cemitérios da Conchada, em
Coimbra, dos Prazeres e Alto de S. João, em Lisboa e do Prado, no Porto, são
bem a prova de como o isolamento sem solidão se pode experimentar em lugares de
repouso como aqueles.
A ausência eterna dos nossos
entes queridos torna-se menos aglutinante fora destes locais. Não necessitamos
visitá-los para termos a percepção da sua presença e os recordarmos na sua
vertente mais característica.
Estando o seu espírito liberto do
corpo inerte, imaginemo-los deambulando por toda a parte, a nosso lado, livres,
felizes, depositários da verdade que a nós é inacessível. Vista a morte por
este prisma, com tanta elevação como a que Cristo protagonizou, os cadáveres
sepultados sob a terra ou encerrados em ricos mausoléus, não deixam de ser o
“pó em que se hão-de tornar”,
como prescrito no nosso destino.
Na morte não há diferença. Mas
para além dela, os que iniciam a longa jornada da eternidade ascendem a uma
dimensão que nos separada nossa vivência terrena. Por isso, eu considero que,
sendo a vida uma passagem, devíamos sentir regozijo e não tristeza.
Costumes há em que se canta e se
come e bebe, homenageando o defunto que partiu para uma esfera mais consentânea
com a sua natureza espiritual. Ao desejarmos a continuação da sua proximidade
connosco, não estaremos a revelar uma dose de egoísmo condenável?
E se pensarmos que eles estão
sempre connosco, nos acompanham, nos têm sob a sua vigilância como servos de Deus,
então o nosso desgosto pelo seu desaparecimento não tem muita razão de ser.
Fica patente o nosso egoísmo por
os desejarmos connosco, pela saudade que nos resta deles, pela nostalgia das
suas recordações, de certos pormenores individuais, os seus objetos pessoais,
os seus hábitos. Na era atual, as fotos, os vídeos, as gravações, os filmes e
outros processos de prolongar a imagem para reviver o passado, permite-nos
permanecer próximos, em espírito e em afetividade, longe da morbidez dos
cemitérios onde muitas vezes ressalta a ostentação.
É agradável ser servo do Senhor.
Ser santo do Senhor. Uma e outra posição significam que devemos espalhar a
nossa bondade para termos acesso a bênçãos e sermos merecedores de entrar no
perímetro dos “prazeres eternos”.
Esta linguagem abstrata não
facilita a compreensão. Mas quanto mais obedecermos à palavra de Deus, mais se
abre a nossa inteligência.
As lágrimas secam-se com o tempo.
Com ele, a melancolia transforma-se em suave reminiscência. E é com a esperança
de os encontrarmos de novo, que aguardamos em paz, a chegada da “nossa hora”.
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