Pergunto a mim mesma se o
individuo ateu deve ser considerado ignorante.
Nesta área, a da filosofia
religiosa sim.
Um dia, confessei a um Pastor
evangélico que achava que Deus era uma ideia.
Ele dissertou mas eu mal o ouvi.
Uma ideia criada pelo homem. Não, não podia ser. O homem tinha criado outros
deuses, ícones, ídolos, limitados e inexpressivos. O homem não podia ter
inventado Deus, que era demasiado perfeito para ter saído da sua imaginação.
Foi quando ouvi: Deus é o TODO.
Entre SER e ESTAR vai uma grande
diferença.
Deus não está em tudo mas é ele
próprio o TODO.
Nada do que é materialista tem
Deus como mentor. Então o que representava este Todo. Não esperei muito. Este
Todo do Pastor significava ORDEM.
A minha alma encheu-se de
regozijo. Fazia sentido.
Quando penso em algo e me alegro
intimamente, é como se recebesse uma mensagem e sinto avançar pelo caminho
certo. Sinto também uma acentuada humildade e muitas vezes, no meu quarto, no
adiantado da noite, quando todos dormem, eu não tenho pejo em me ajoelhar no
tapete e curvar a cabeça até ao chão. Pode parecer ridículo mas confesso que
não há nada que supere esta sensação de defesa contra os meus “inimigos”.
Nestas alturas, Deus adquire,
como humana que sou, uma figura humana, forte, protectora e benévola.
Embora eu pense que o ateu, só
por se envaidecer de o ser e sorrir irónico a estes sentimentos, já por isso
não se permeabiliza à espiritualidade das coisas.
O ateu é materialista. Eu comparo
o materialismo a uma ferida completamente purulenta. Quando se limpa da
infecção, raspando o pus, o sangue brilha e recebe os elixires curativos que
actuam até ficar sã, receptiva aos dons espirituais que nos permitem uma certa
acuidade na reflexão, no modo de encarar os factos.
Há tempos, assisti a uma
entrevista entre um literato e um missionário. Estavam frente a frente, a
incredulidade sarcástica e a humildade. Nenhum deles mudou as convicções do
outro. E notou-se um enorme, incomensurável vazio entre eles. Eu creio que ser
ateu ou ser crente é uma predisposição de alma. O crente conquista estados
psicológicos de extrema paz e em certos momentos, profundo regozijo, grande
alegria. Não penso que estes estados sejam semelhantes aos que se experimentam
com a obtenção de bens materiais. Subsiste um requinte na maneira como se vive
esta paz, esta alegria. É como florescesse em nós um canteiro de flores e não
nos dessem apenas a cheirar um ramo perfumado, que murcha ria em breve como
tudo quanto é efémero e se constrói no mundo dos interesses.
A filosofia japonesa considera
que tudo tem espírito.
A chamada “natureza morta” tem
espírito?
Eu acho que a espiritualidade é
tão abrangente, que qualquer objecto inorgânico pode beneficiar de espírito através
das vibrações humanas quando o manuseia ou modela.
Mas não desejo entrar em
preciosismos. Limito-me a considerar com muita lástima aquele que não crê no
espírito, que o mesmo é restringir-se à matéria, ao “barro” com que foi feito.
“Tu és pó e em pó te tornarás”. Para o descrente, não há mais nada para além do
pó. A morte é o fim de tudo. E para que serviu esse tudo? Para se diluir na
distância, no tempo?
Sinto-me plenamente tranquila,
imaginando que a nossa existência é apenas uma passagem de um “Mar Vermelho”
que nos dá um período para o atravessarmos, com mais ou menos atropelos.
Não somos perfeitos. Ninguém é
perfeito. Quando o formos, os horizontes celestiais abrem-se às escâncaras. Não
o céu azul ou cinzento que nos serve de abóbada mas um outro conceito nos
desperta.
Há várias dimensões no nosso
abstracto ideológico e várias plataformas de observação mas não somos
suficientemente puros e perfeitos para aspirar a saber tudo. Deus, no entanto
prometeu-nos a luz. Jesus foi ele próprio a verdade e a vida. Por isso,
ascendamos aos seus princípios e ser-nos-á revelada toda a missão para a qual
fomos criados e a recompensa que merecemos.
Ser ateu é ser, não só ignorante - já que ignora tudo à sua volta numa outra perspectiva - como tambem um ser infeliz, pois priva-se de sensações de felicidade unicas e de uma simplicidade extrema.
ResponderEliminarSem dúvida. O ateu é um ser ligado à matéria. Julga-se avançado em seus pressupostos materialistas, egoístas e esquece que para além do corpo tem algo de mais sublime que não cultiva. A realidade em que “ver para crer”, como S. Tomé, nem o ensina nem o aperfeiçoa. Será sempre um infeliz. A partir do momento que nega o que não conhece em termos espirituais, nega-se a si mesmo. “É barro duro nas mãos do oleiro”. E jamais será vaso.
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