segunda-feira, 15 de outubro de 2012

David Alexandre


12 de Outubro de 2012

Tenho nas minhas mãos uma foto do “Xaninho”, nome por que é carinhosamente tratado entre os familiares e “Xano” para os amigos.
A mãe conta que, quando bebé, gatinhava pela casa, de forma desprendida e segura e quando se cansava da caminhada, adormecia, fosse qual fosse o local, cabeça pousada no bracito, desfrutando o sono dos justos.
Revolvo a foto entre os dedos, maravilhada pela criança que encara a objectiva em ar de desafio, prestando mais atenção ao gato Gremlin, companheiro de diversão.
Assisti ao crescimento e desenvolvimento desta criança e surpreendiam-me as particularidades do seu temperamento.
Enquanto frequentou a escola foi aluno brilhante, apesar de não prestar muita atenção aos livros. A sua inteligência arguta desenrolava as matérias para além das meras páginas dos compêndios. Cedo perdeu o interesse pelos livros e pelos professores. E foi crescendo, criando maturidade e amizades para quem se revelou extraordinário conselheiro, principalmente no domínio das motos e similares. O tempo e a experiência levou-o a direccionar a sua paixão pelos veículos de duas rodas, por isso, o seu ambiente preferido é aquele onde se pode misturar com as peças, os pneus, os parafusos e coisas adstritas ao trabalho de montar e desmontar, consertar, “desenrascar” um colega e sonhar ter um dia a sua própria oficina.

Tem também uma característica interessante: adora fazer crepes e fá-los extremamente saborosos, pondo na feitura da massa um cuidado muito especial.
Com o passar dos anos, Alexandre tornou-se um belo jovem, forte e saudável, de olhar expressivo, profundo, negro como noite sem estrelas. Possui um elevado sentido de justiça e um acentuado sentimento de defesa pelo mais fraco, seja um ser humano, seja um animal.
Hoje, com a sua bonita e talentosa mulher, Sílvia, formam um casal exemplar e juntos, estão acompanhando e gerindo a existência da pequenina Carolina, que ainda não tem um ano mas é a predilecta de todos.
Olho de novo a foto, este bebé de fato azul, pouco mais alto do que o assento da cadeira. O seu rostinho redondo, a sua expressão séria. Homem feito, conserva o mesmo rictus visual mas o corpo de atleta indica que as pessoas que ele tem no seu agregado familiar, podem contar sempre com a sua presença protectora e segura.
Alexandre, tal como é um bom filho, revela-se um excelente companheiro e um pai exemplar.
Eu pergunto: Como pode caber tanta responsabilidade num corpo? E contemplo com insistência a silhueta infantil, saudosa daqueles dias em que ele era “muito nosso”.
Mas a diferença física não esconde a sua nobreza moral, em embrião num ser tão pequenino e delicado, a sua ingénua confiança nos outros, a sua lealdade para com os amigos, o seu sentido de família demonstrados na idade adolescente, características de uma juventude virada para o futuro.
Tenho muitas saudades do “Xaninho” da foto. Mas tenho um imenso orgulho no “Xano”, pai de família.
Ele é bem o símbolo de uma geração que o país devia proteger e promover. Porque são jovens como este, de personalidade equilibrada e altruísta, que ajudam a construir uma sociedade mais próspera, com a dignidade e os valores que a credenciam além-fronteiras.
25 anos. Um quarto de século. Uma idade de ouro para amar e ser amado; respeitar e ser respeitado; enriquecer e ser enriquecido.

Ah! Falta o elemento divertido da família, o Tyler, o cão de raça capaz de atirar uma pessoa ao chão com os seus excessos de ternura. Um animal de grande porte e força muscular possante mas manso para os conhecidos como um cordeirinho, sensível e alegre.
O quadro está completo. Alexandre exibe com envaidecimento a tatuagem que mandou gravar nas suas costas com o nome da filhinha Carolina. A dor por cada incisão misturou-se ao regozijo de ostentar uma obra sua e ao mesmo tempo declarar ao mundo que estaria sempre presente para a defender.
Quando os filhos abandonam a casa de seus progenitores, as raízes da sua genealogia, para fundarem alicerces em outro lugar, pensamos que há sempre o momento de os considerar menos nossos porque passam a pertencer a outra faceta da sua vida.
Resta-me parar, meditar, apreciar de parte, a sua evolução genuína e apertar entre as mãos esta foto tão especial de um menino que se tornou grande mas para o coração daqueles que o amam, será sempre o “Xaninho”, fazendo festas ao Gremlin.


4 comentários:

  1. É bom ouvir falar de forma maravilhosa sobre alguém e, então, se esse alguém é nosso filho, mais deliciada fico. É com imenso orgulho que escuto estas palavras que descrevem tão bem a forma de ser deste meu filho. Tu Xano, a tua mana Patrícia e o teu mano Bruno são o meu alento, o ar que eu respiro e o meu maior orgulho. Vos amo imenso.

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    1. É maravilhoso, é sublime como uma mulher como tu, remando sempre contra a maré, soube encontrar nos seus filhos, o lago tranquilo das águas calmas. Sim, bem podes orgulhar-te do que eles são e virão a ser. Mas acima de tudo, podes ter o maior e mais salutar orgulho em ti própria. Pelo teu carácter congénito, pela tua garra de defensora dos princípios e valores que jamais em ti desprezaste, podes bem afirmar na tua consciência, que a bela obra que de ti saiu, a deves única e exclusivamente à tua forma de ser, à tua força anímica, à tua recusa face aos momentos negativos. Quando um inseto venenoso ameaça morder-nos o calcanhar, esmaga-se com o pé. Foi sempre assim que fizeste.
      Por isso, hoje, filhos, familiares e amigos, possuem o melhor conceito a teu respeito, dentro de um parâmetro exemplar que continua a servir de modelo pelos tempos fora, para bem da humanidade.

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  2. De cada vez que leio e penso na minha família e em todos os obstáculos da nossa vida, sinto orgulho, amor e plenitude porque, com muita luta, estão a vencer.
    Amo, do fundo do coração, cada um dos meus familiares.
    E dou graças a Deus por estarmos a caminhar para a frente.

    Eurídice (tia com muito orgulho)

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    1. Eu poria tia e irmã com muito orgulho.

      Há uma frase antiga que diz: Ditosa Pátria que tais filhos tem. Eu utilizo-a desta forma: ditosa mãe que tais filhos teve. “E mais teria se não fora para tão grande amor, tão curta a vida”.
      Os meus filhos podem orgulhar-se, de são orgulho pelos pais que tiveram, pelos avós que conheceram em parte, pelos bisavôs que não conheceram.
      Quanto mais se recua no tempo, mais fascinante e íntegra é a família. Bebeu o leite de personagens fantásticas. Perde-se na ancestralidade dos que sem saberem ler nem escrever, deram à terra o melhor da sua sabedoria. Geraram letrados, intelectuais, empresários, agricultores e outros que emigraram e se perderam na armadilha dos oportunistas. Geraram patriotas que deram a vida em guerras inglórias.
      Vou ter oportunidade de falar deles, de algum em particular.
      Não é por acaso que sois como sois. Cada um com o seu temperamento peculiar, a sua vida de aventura, a sua bondade, o seu altruísmo.
      Para trás ficam as reminiscências, o álbum das fotos e das recordações. Para a frente, uma nova geração, de progresso, conforto, modernidade.
      Desejo somente que esta árvore genealógica se não deixe corromper por ambições desmedidas, negócios obscuros, caminhos tortuosos. Saibam distinguir o bem do mal, separar o trigo do joio.
      A vitória, mesmo coberta pelas aparências, fez sempre parte integrante da nossa família. A satisfação do dever cumprido, geradora da felicidade, mesmo vestida com manto de lágrimas, faz parte do nosso dia-a-dia, onde a união, a solidariedade, a interajuda, surgem quando necessário.
      Paz, amor e alegria – disse o pai num seu poema. Que este trinómio reine sempre entre todos nós.

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