05.10.1910-05.10.2012
Nesta data, comemoramos o quê?
Os 102 anos da nossa centenária
República? Repleta de experiências e histórias para contar?
Vi, pela primeira vez a sua foto
num enorme painel pintado a óleo, passados dias de entrar para a escola
primária.
Representava uma mulher forte,
toda ela cheia de carnes, de mangas arregaçadas e expressão determinada.
Destacava-se duma grande multidão, oriunda do povo, pelo seu trajo colorido e
pelo estandarte que brandia, de braço roliço, acima de todas as cabeças. O que
mais me impressionou foi o seu seio, completamente saído do corpete; dois
peitos redondos, túmidos, rijos, prometedores.
Durante largo tempo, não tirei os
olhos daquela imagem. Forte, poderosa. Parecia querer saltar do quadro e acabar
com uma luta, arrastando consigo as massas num movimento revolucionário.
Mais tarde, não muito mais,
percebi que esta figura simbolizava a aparição, o começo de uma nova era. A
monarquia tinha caído e um novo regime se instalava, de cariz republicano, cujo
ex-libris era uma mulher, de estatura matriarca, de mamas pujantes de leite que
iriam amamentar um povo com fome.
Ela era a Pátria. E iria
alimentar os seus filhos como mãe extremosa que era.
Depois do assassinato do rei D.
Carlos e do príncipe herdeiro, seu filho, Luís Filipe e do exílio de D. Manuel,
seu irmão, que se manteve no trono uns escassos dois anos, a nação, tão
enfermiça como o monarca, bem necessitava de um golpe de estado.
O sistema mudou e deu lugar a
muitos sistemas. Foram milhares os políticos e governantes. Algum sangue correu
daqueles que só sabiam ser idealistas e atropelavam os ambiciosos do poder.
Depois de tantas peripécias e
contendas, tantas vítimas inocentes, tantos rostos e discursos inflamados,
chegámos hoje a um estádio de alma nostálgico de um 25 de Abril que parecia
prodigalizar esperança e sonhos de liberdade democrática…
Mas o povo é uma criança.
Ingenuamente acredita. Mal informado, confia nas lábias dos que tomam as
rédeas.
Quando se vê no limiar da pobreza
e as plataformas sociais descambam, acorda e cresce de repente.
Os movimentos contestatários são
de um povo cansado, desconfiado mas sem energia para escolher, porque olha em
redor e não vê quem tenha a honestidade de remendar o buraco que outros cavaram.
Hoje comemoram-se 102 anos
através de alguns eventos que assinalam, acima de tudo, coisas menos boas, como
o período da ditadura fascista e a mudança para democracia, desde sempre mal
percebida e mal aplicada.
A mim, só me resta fazer a
pergunta: Que nos reservará o futuro? Neste momento, se soar o troar de algum
canhão para celebrar a aniversariante, associemo-lo ao momento de despertar
energias e decidir de uma vez por todas. E acabar com este slogan de um “salve-se quem puder”.
Lembremo-nos que o futuro é das
novas gerações.
Salvemos o trigo do joio.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Violar os Direitos de Autor é crime de acordo com a lei 9610/98 e está previsto pelo artigo 184 do Código Penal.
Por isso NÃO COPIE nenhum artigo deste blogue ou parte dele, sem dar os devidos créditos da autoria e sem colocar o link da postagem.
Muito obrigada!