15 de Setembro de 2012
Nas ruas de Portugal, em quarenta
cidades principais, realizou-se uma manifestação de protesto, de cuja
envergadura não tenho memória.
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Nos meus tempos de criança, as
pessoas eram outras, a sociedade era outra. Brincava-se de uma outra maneira,
tinha-se outro conteúdo moral nas relações afectivas. A casa merecia bem o
ápodo de “lar” e a família constituía um círculo de sentimentos vigilantes e
protectores que davam aos mais novos a certeza e a confiança de se sentirem
resguardados de toda a espécie de vicissitudes.
Com as inovações tecnológicas, o
progresso, as imposições da via moderna e ainda, a emancipação da mulher
provocada pelas necessidades vitais do seu desejo de independência e liberdade
de acesso a privilégios que anteriormente não usufruía, a situação mudou e os
adultos deixaram de se preocupar com a jovem geração, delegando a educação em
infantários, escolas, jogos de diversão, brinquedos científicos, computadores e
Internet, com toda a gama perniciosa que os mesmos envolvem quando usados sem
discrição.
Os progenitores incumbiram estes
elementos de preencher as lacunas que eles próprios, pela força do quotidiano e
pela ignorância e egoísmo, desprezam levianamente.
Funcionários de regras
estabelecidas limitam-se a corresponder ao cargo para salvaguardar os
honorários a que se julgam com direito. O que sobra é da estrita
responsabilidade dos adolescentes, entregues a si mesmos e às influências
exteriores e não deixa de ficar ao alcance dos mais pequenos, ansiosos por
“crescer” depressa, desafiando a vida e o destino, quando não são apanhados nas
armadilhas das oportunidades mais tenebrosas.
Sabemos que aparte a divulgação
na imprensa, nos órgãos de comunicação social, nos meios audiovisuais, os
acontecimentos transformam-se muitas vezes em motivos de especulação para a
“caixa alta” do jornalista.
Sabemos que a justiça, na
translúcida obscuridade dos seus bastidores, não mantem a verticalidade do fiel
da balança, disfarçando direitos e deveres.
Infelizmente, todos sabemos que o
problema se apaga com a vítima.
Num país onde nada está em ordem,
desde a saúde, o ensino, a função pública, o emprego, regressamos sempre ao
ponto primordial: produção. Um país sem produção não se tem de pé. Não é de
estranhar o estado social de certos núcleos familiares, “no limiar da pobreza”
e “abaixo deste limiar, acompanhando os “sem-abrigo”. Depois surgem as
instituições ditas de solidariedade, beneficiando elas dos donativos, num
número assustador de “contas abertas” para fins altruístas que não chegam a
concretizar-se.
Não foi por acaso, julgo, que há
dias, recebi um telefonema de fonte fidedigna a denunciar essas fraudes
Com todo este arsenal de
dificuldades baseadas numa só causa – AUSTERIDADE - persegue-nos agora a veste
negra da “troika”, disfarçada de samaritana, para diminuir o défice, para
erguer a economia, e obstar a uma nova crise política.
Que os partidos cheguem a não se
entenderem, isso é lugar-comum onde existe coligação porque não sabem governar
sozinhos.
Mas o povo votou. Certo estrato
por desfastio, outro por conveniência. Agora, as consequências estão aí. Menos
poder de compra, “cortes” e as lamentações dos que parecem ser obrigados ao que
não desejam; à miserável compostura daqueles a quem não afectam os sacrifícios
dos outros porque eles não necessitam de os fazer.
Que faltou em Portugal para que
se deixasse ir abaixo?
Será que não temos consciência de
que a nação só pode alicerçar a sua esperança numa juventude que trabalha,
investe e produz riqueza, pressupostos que se podem gerar cá dentro, activando
os recursos inexplorados, abandonados, ignorados desde a Revolução de Abril.
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O movimento popular que se gerou
nas ruas portuguesas, demonstrou que o povo tem voz e tem poder para mudar. É
uma luta que deve continuar por meio de todas as iniciativas, para evitar o
abismo que os nossos filhos não esperavam.
Contenção não é imolação.
Se a mentalidade nacional não
mudar - que esta, sim, permanece em crise - não tenhamos ilusões. O País tem o
governo que merece. Nós temos os governantes que merecemos e damos impulso à
corrupção, à ambição, ao desejo de poder, com desprezo pelo progresso
económico-social, pela prosperidade e pela paz. Eu ia a dizer, pela
independência, que me parece em terreno escorregadio.
O povo ainda se não persuadiu de
como é grave a responsabilidade dos homens de Estado, os que ditam e
interpretam as leis, os que anunciam promessas que nem sabem como cumprir, os
que promovem campanhas de optimismo retumbante…avolumando nos secretos
subúrbios das consciências sem formação, os espectros da fome, das violações,
do trabalho escravo.
Que futuro para as nossas
crianças, os nossos jovens que estudam, eles que são a nossa continuidade e a
nossa herança?
Outras figuras como a Igreja, que
se conduz neste campo como mero espectador, sem voz que desperte nem exemplo
que prolifere, salvo na fé de um povo maleável que se refugia nos seus santos
de altar.
Uma profunda nostalgia me invade
ao recordar a minha infância, os meus dias felizes e a sorte que tive. Eu fui
aquela criança para quem o trinómio: Deus, Pátria e Família tinha sentido.
Apesar de viver em ditadura.
Qual é a diferença? Regime
ditatorial ou ditadura disfarçada de democracia?
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