Dia 1 de Junho de 2012
DIA MUNDIAL DA CRIANÇA
Apesar de a Declaração Universal dos Direitos
da Criança ter bem definidos os privilégios que a sociedade lhe deve, a verdade
é que tudo não passa de “letra morta”.
Comecemos pela ausência de condições físicas e
psicológicas nos nascimentos e partos compulsivos, inoportunos, que induzem as
mães solteiras, as mães adolescentes, e as mães sem recursos perante situações
calamitosas, a libertarem-se dos filhos que não desejam, vindos ao mundo porque
não houve prevenção e acompanhamento adequados à sua situação de desamparo e
incompreensão. Tal falha das comunidades onde estas mulheres estão inseridas,
leva a resultados catastróficos para quem “não pediu para nascer”.
As dificuldades acentuam-se nos lares onde se
instalou a insuficiência económica, onde os progenitores maltratam estas
criaturas sem defesa não lhes oferecendo os cuidados básicos elementares ao
desenvolvimento da sua personalidade, ao seu crescimento e aperfeiçoamento gradual
das suas aptidões em domínios que elas jamais experimentam, pois apesar de
“todos sermos iguais” as crianças também são apanhadas na engrenagem da
discriminação de classes.
De que servem as instituições de apoio,
solidariedade, se elas estabelecem regras em colectivo e não dispõem de
tratamento personalizado?
De que servem adopções, se os afectos
familiares, os laços de sangue, a convivência fraterna são cortados cerce,
ignorando o sofrimento infantil em nome dos seus pseudo interesses?
Ironicamente, multiplicam-se os departamentos
de protecção à criança, os reformatórios, as entidades de beneficência, as
associações de “caridade”, para minorar os efeitos de uma sociedade egoísta e
pérfida que não consegue eliminar os pedófilos, os exploradores da mão de obra infantil,
os traficantes, toda uma mole humana ambiciosa e perversa que não se coíbe de
negociar carne humana nem de arruinar emocionalmente quem poderia dar, melhor
do que eles, maior e mais profícuo contributo ao País.
A teoria sem prática amarelece o papel. E quem
quer ver, sabe que nada se faz para defender melhor estas crianças que os
próprios Tribunais condenam, julgando arbitrariamente, saindo a maior parte das
vezes, fora do contexto para se permitirem ajuizar que “fazem alguma coisa”,
com base em informação volúvel de uma assistência social interessada apenas no
êxito dos seus próprios critérios.
As crianças são a geração futura. A família
que sabe imprimir valores morais e tem possibilidade de evitar a fome e a
discriminação escolar, educativa e económica aos seus descendentes, pode também
sentir-se feliz e realizada. Mas as outras?
Num País que continua na “cauda da Europa”, ou
“em vias de desenvolvimento” como nos querem fazer crer os diplomatas, é mais
fácil imitar o mal e aceitar que se sirvam das nossas fragilidades.
Que pensar desta nação, ”à beira-mar
plantada”, uma das impulsionadoras dos Descobrimentos, a dos Lusíadas, do clima
moderado, de grandes tradições e alguns saudosistas?
Que pensar de um Governo onde tantos fazem tão
pouco?
O CÉU
DESCEU a)
por Aurora Tondela
- Mãe! Dá-me flores brancas… brancas!
Dá-me o jardim! Dá-me essas flores!
- …!?
A criança olhou o céu
e o céu desceu aos olhos da criança.
- Mãe! Dá-me o sol! Quero pintar o sol!
- O sol que fere, meu amor?
Tão alto e tão fulgente que não há
Cor mais solene que o seu ouro puro?
A criança baixou o rosto triste
e o sol fulgiu no cabelo da criança.
- Mãe! - balbucia em voz
sumida . -
dá-me as ondas do mar, dá-me o luar!
- Mas que tolice, filho! O mar tem cor!
E a lua é branca como Deus a fez…
Pinta esse livro que eu te trouxe, vá!
Ou nada te darei para a outra vez!
Um soluço se ouviu...
e o mar falou ao ouvido da criança.
- Mãe! Dá-me Deus!... Eu queria pintá-lo, sabes?
O pincel sorriu nos dedos da criança…
E a criança chorou.
a) Poema publicado no Diário de Noticias na
década de 60, dedicado a todas as crianças do mundo. Faz parte integrante da Antologia Poética Lusobrasileira orientada pela
escritora Dra. Adalzira Bittencourt e foi traduzido para espanhol, francês,
inglês, alemão, italiano, sérvio e russo.
Sempre fui bastante sensível a assuntos relacionados com crianças e de facto, subscrevo tudo quanto aqui escreveste... Enquanto não houver o respeito pelas crianças como princípio de todas as leis, estas continuarão na cauda das prioridades. Simplesmente lamentável.
ResponderEliminarYo
Exatamente. As crianças, perante os tribunais são tratadas como seres sem alma, por isso, descuram os seus afetos, causando-lhes sequelas e traumas emocionais que muitas vezes as levam a odiar os próprios progenitores.
EliminarA solução ideal estaria num planeamento e formação familiares e na criação de condições que evitassem as dificuldades que certos agregados experimentam quando hã desemprego, inexperiência educativa, falta de recursos estruturais que evitem o desânimo e ausência de conhecimentos na estratégia orçamental.
Qual tem sido o papel das assistentes sociais, na elaboração dos relatórios? Fazem lembrar abutres na busca incessante de elementos pejorativos, consultando as piores fontes, as negras aparências, ignorando trabalho de formação e educação que estes lares, depauperados pelas realidades circunstanciais sofrem nos seus elementos mais frágeis.
Em vez de um acompanhamento frequente e atento, servido por pessoas com discernimento e sensibilidade, opta-se por retirar as crianças do seu ambiente afetivo, muitas vezes deixando ao desamparo aquelas que são violentamente maltratadas.
Mas como as instituições vivem à custa da população infantil, sem ela, não existiriam, há que fomentar a sua instalação, mesmo quando a sua credibilidade é duvidosa.
Talvez não seja por acaso que a notícia do aparecimento de departamentos de solidariedade social com a suspeita de arrecadarem em benefício próprio, as verbas conseguidas da compaixão pública.
Resta averiguar como se abafam estes deslizes.
Respeitemos as crianças, sim, Yolanda, naquilo que elas possuem de mais valioso: o seu amor pelos pais e a necessidade de os ter no seu dia a dia.