Bruno Filipe tem seis anos,
Escolheu fantasiar-se de Zorro.
Perguntei-lhe porque elegera aquela personagem para
participar no Carnaval. Respondeu-me:
- O Zorro castigava os que faziam mal.
David Miguel optou por se vestir de polícia.
Fiz—lhe a mesma pergunta.
Com os seus cinco anos bem determinados, esclareceu-me:
- Para prender os ladrões.
O sentimento instintivo de justiça nas crianças - é bom
notar – manifesta-se em toda a vivência do seu quotidiano e o Carnaval apela para
fazer de conta” quando a realidade impede a realização do melhor propósito.
Os adultos recreiam-se nas figuras coloridas dos pequenos e
os jovens encontram formas de diversão com os adereços brilhantes, fingindo a
personagem preferida. Por pouco tempo se é o que não é.
Eu pergunto-me se o Carnaval é um disfarce do mundo que se
gostaria de viver, dos desejos recalcados, ou simplesmente uma sátira aos
costumes hodiernos ou, mais fútil ainda, um modo único de divertimento; mais um
pretexto de diversão, de fuga momentânea aos problemas ou ainda a nudez dos
preconceitos, “ninguém leva a mal”, nem a máscara sob a qual se oculta o rosto
de uma personalidade.
É quase uma virtude
quando a máscara serve para se observar sem ser notado. E com essa descoberta
se aprende a ser justo.
Apesar da controvérsia que o Carnaval exige, conclui-se que
a sua utilidade e interesse resultam de da possibilidade de distracção e
esquecimento do carnaval de todos os dias, onde as máscaras se sucedem,
decoradas de mentiras e falsidades. Atravessamos um tempo em que todos enganam
o outro quando se não enganam a si próprios.
Por isso, afastando o ridículo em que o Carnaval se
transfigura num cruzamento de acidentes e incidentes deploráveis, saudemos o
Carnaval de 2018 na imagem infantil que interpreta a sua fantasia com toda a
fidelidade do seu Temperamento.
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