Eu
continuo a afirmar que o Carnaval, como o Natal, é mais propriedade das
crianças que dos adultos. As crianças têm uma sensibilidade rica em inocência e
espontaneidade. Apreciam a novidade desde que esta venha impregnada de brilho e
inspire a sua imaginação. Não é de estranhar o seu interesse pelos contos de
fadas, pelas fábulas e episódios de aventura. E mesmo que no seu íntimo sintam
que é a fingir, entregam-se sem disfarces ao cenário que mais as surpreende.
Bruno
Filipe tem cinco anos, Este ano quer fantasiar-se de “cavaleiro das Cruzadas”.
Não tanto pela túnica mas pela espada, ele assume uma intrepidez de guerreiro,
defensor de fracos e oprimidos. Pode não entender a realidade daquela época mas
entrega-se, vive a personagem com todo o vernaculismo da sua identidade,
independente de negativismos e exageros.
Mas
enquanto na criança, a fantasia dispensa a máscara, no adulto, a máscara
esconde o sentimento obscuro que acompanha o seu dia-a-dia. A ver bem as coisas
nem precisava de usar aquela máscara de missanga ou “lamé” ou aquela mascarilha
de lantejoulas para ocultar a sua verdadeira máscara,
Quantas
atrocidades e crimes se cometem à sombra dos trajes carnavalescos?! Quantas
vinganças se cometem planeadas no enleio de uma máscara?! Quantos dissabores e
desilusões se agigantam na confusão das serpentinas e confettis”, no abuso e no
excesso, na confusão, tudo máscaras e mascarilhas diabólicas que estimulam a
existência do indivíduo.
Quando
ele deixa cair a máscara, vêem-se os estragos que causou.
Carolina
tem quatro anos e deseja fantasiar-se de “gatinho”.
Só
neste diminutivo, demonstra toda a ternura do seu coração.
Miguel
tem a mesma idade e o fato que escolheu com equipamento completo – faz questão
– é o de “bombeiro”.
Não
é difícil presumir porquê.
O
Carnaval como diversão, convívio alegre e inofensivo, benéfico em desprendimento,
tubo de escape momentâneo das misérias da vida, eis o que pode ser. Mas
atitudes, comportamentos, expressões e até roupagens “carnavalescas” são o
nosso prato de cada dia. Onde quer que se esteja, nos departamentos estatais,
nos centros de saúde, nos organismos oficiais, nas ruas, nas famílias nos
locais públicos de várias áreas e instituições de vária ordem, proliferam as
farsas e insinuam-se as máscaras.
E
quando a máscara cai…
Terminou o Carnaval mas a foto fica para a posteridade, evocando sempre o diálogo que marcou este evento entre mim e o meu neto Bruno Filipe.
- Vovó, não te mascaras?
- Já sou muito crescida para isso.
- Oh!! Queria que te mascarasses...
- De quê, já agora?
- De Princesa!
E aqui estamos nós, duas gerações, a mais velha, uma "Princesa da Nobreza" e a mais nova, um "Cavaleiro das Cruzadas".
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