quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

ENCONTRO de CANICHES - VI


Em pleno Inverno, os canitos encontram-se na sala de uma das suas donas, apreciando o calor de uma crepitante lareira. Rissol está, no entanto, de mau humor.
- Anima-te, companheiro! – diz  o Jimy – O mundo não acaba hoje.
- Pronunciaste bem: companheiro. é um vocábulo que se não usa neste país.
- De que estás a falar? – interroga Rubi.
- Então vocês não viram na Assembleia, aquele homem, totalmente só, a implorar pelas suas prerrogativas? Salvou dezenas de vidas.
- Eles chegavam lá…- opinou o Filo.
- Sim, sim, depois de mais umas tantas mortes. E não chegaram, porque o pandemónio que se verifica nos corredores dos hospitais está longe de solução.
- Eu acho muita piada. Estamos numa democracia, não estamos? – inquire Rubi.
- Sim! – responderam em coro.
- E isso quer dizer o quê, concretamente?
Após uma pausa, Rubi continuou:
- Governo do povo. Vem do termo grego. E o povo elegeu os seus representantes…
- Lindos representantes! – discordou o Gigi.- Estamos todos a ganhar.
- Não servem, demitem-se! – atirou o Filo.
- O que me faz pensar é que não saímos dos movimentos de rua, dos cartazes, dos piropos e, como nação de brandos costumes, “engolimos” todos os sapos e víboras que nos oferecem no quotidiano.
Lulu proferiu num latido colérico:
- Apoiado! Abaixo os gordos!
- ????
- Não se admirem com esse focinho de patetas. Vêem alguém do Executivo que seja magro? Magros são os pobres, sem uma refeição completa. Enquanto se apregoa nos ecrãs televisivos, o tipo de alimentação equilibrada que se deve ter, os que não gozam de recursos passam fome.
- Uma coisa que devia acabar era os sem-abrigo. Uma nódoa negra da consciência democrática.
- Tens razão Jimmy! Com os mil milhões de que tanto se fala e que desaparecem e aparecem sem o povo ficar a perceber alguma coisa, mudava a qualidade de vida a muita gente.
- Matava a fome a muitas crianças…
- Milhões que eles estão constantemente a mencionar… um ultraje.
- Por isso, Rissol, eu penso que a pobreza que os está a sustentar. Parece anomalia, não é?
- Pois! Tiram aos famintos o que lhes é devido por direito e sustentam-se eles com os seus “top gama”, viagens com tudo pago… bem, vocês sabem.
- Como somos acomodatícios…
- E não há unidade nacional…
- E todos refilam mas nada fazem pela mudança…
- É mais cómodo ver os escândalos nas novelas, assistis à palhaçada da “casa dos segredos”…
- Onde nenhum dá nada para a caixa e se não percebe um resquício espirituoso que seja…
- Eh! Eh! Acalmai os ânimos! Nada é para sempre. Alguém tem de pôr cobro.
- Quem? Os chineses? Só pode.
- Tu, Lulu, só dizes disparates.
- Mas tu, Gigi, estás bem a ver? Saúde? Um caos. Ensino? Por um lado, aquela discrepância estúpida nas colocações e por outro, professores a dar pontapés na gramática…
Rubi deu uma gargalhada.
Vamos mas é almoçar. Espera-nos uma ementa espetacular.
Olha-me este, com pensar de ministro.

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