Em
pleno Inverno, os canitos encontram-se na sala de uma das suas donas,
apreciando o calor de uma crepitante lareira. Rissol está, no entanto, de mau
humor.
-
Anima-te, companheiro! – diz o Jimy – O
mundo não acaba hoje.
-
Pronunciaste bem: companheiro. é um vocábulo que se não usa neste país.
-
De que estás a falar? – interroga Rubi.
-
Então vocês não viram na Assembleia, aquele homem, totalmente só, a implorar
pelas suas prerrogativas? Salvou dezenas de vidas.
-
Eles chegavam lá…- opinou o Filo.
-
Sim, sim, depois de mais umas tantas mortes. E não chegaram, porque o
pandemónio que se verifica nos corredores dos hospitais está longe de solução.
-
Eu acho muita piada. Estamos numa democracia, não estamos? – inquire Rubi.
-
Sim! – responderam em coro.
-
E isso quer dizer o quê, concretamente?
Após
uma pausa, Rubi continuou:
-
Governo do povo. Vem do termo grego. E o povo elegeu os seus representantes…
-
Lindos representantes! – discordou o Gigi.- Estamos todos a ganhar.
-
Não servem, demitem-se! – atirou o Filo.
-
O que me faz pensar é que não saímos dos movimentos de rua, dos cartazes, dos
piropos e, como nação de brandos costumes,
“engolimos” todos os sapos e víboras que nos oferecem no quotidiano.
Lulu
proferiu num latido colérico:
-
Apoiado! Abaixo os gordos!
-
????
-
Não se admirem com esse focinho de patetas. Vêem alguém do Executivo que seja
magro? Magros são os pobres, sem uma refeição completa. Enquanto se apregoa nos
ecrãs televisivos, o tipo de alimentação equilibrada que se deve ter, os que
não gozam de recursos passam fome.
-
Uma coisa que devia acabar era os sem-abrigo. Uma nódoa negra da consciência
democrática.
-
Tens razão Jimmy! Com os mil milhões de que tanto se fala e que desaparecem e
aparecem sem o povo ficar a perceber alguma coisa, mudava a qualidade de vida a
muita gente.
-
Matava a fome a muitas crianças…
-
Milhões que eles estão constantemente a mencionar… um ultraje.
-
Por isso, Rissol, eu penso que a pobreza que os está a sustentar. Parece anomalia,
não é?
-
Pois! Tiram aos famintos o que lhes é devido por direito e sustentam-se eles
com os seus “top gama”, viagens com tudo pago… bem, vocês sabem.
-
Como somos acomodatícios…
-
E não há unidade nacional…
-
E todos refilam mas nada fazem pela mudança…
-
É mais cómodo ver os escândalos nas novelas, assistis à palhaçada da “casa dos
segredos”…
-
Onde nenhum dá nada para a caixa e se não percebe um resquício espirituoso que
seja…
-
Eh! Eh! Acalmai os ânimos! Nada é para sempre. Alguém tem de pôr cobro.
-
Quem? Os chineses? Só pode.
-
Tu, Lulu, só dizes disparates.
-
Mas tu, Gigi, estás bem a ver? Saúde? Um caos. Ensino? Por um lado, aquela
discrepância estúpida nas colocações e por outro, professores a dar pontapés na
gramática…
Rubi
deu uma gargalhada.
Vamos
mas é almoçar. Espera-nos uma ementa espetacular.
Olha-me
este, com pensar de ministro.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Violar os Direitos de Autor é crime de acordo com a lei 9610/98 e está previsto pelo artigo 184 do Código Penal.
Por isso NÃO COPIE nenhum artigo deste blogue ou parte dele, sem dar os devidos créditos da autoria e sem colocar o link da postagem.
Muito obrigada!