Veio
no dia seguinte, pela manhã, conduzida por umas mãos fortes que a orientaram
entre as minhas pernas.
Na
véspera, eu completava 39 anos. Habitualmente, o meu aniversário era festejado
com um jantar à luz das velas e uma sessão de cinema.
À
mesa, a garota não sossegava, como se quisesse ver tudo e saborear a ementa.
Incomodada,
o que poderia ter sido um momento idílico, foi entrecortado de gestos bruscos,
esgares de mal-estar e posição insuportável.
A
miúda redobrou a sua irreverência ao longo da metragem. Não percebi nada do filme,
não apreciei devidamente a carícia de meu marido, que se atemorizava a cada
movimento inoportuno, receoso deu um desenlace.
Naquela
noite, o hábito de assistir a uma sessão cinematográfica, conservando-nos de
mãos dadas, num enlevo que persistia no tempo, apesar da existência da filha
mais velha, de quinze meses, tinha todos os ingredientes para se tornar um
flagelo, menos num momento romântico.
Respirei
de alívio à saída do cinema.
À
chegada a casa, as primeiras contrações começaram.
A
noite fechou o meu círculo onde só uma criaturinha indefesa gozava todas as
prerrogativas.
Pela
manhã, um choro desesperado estilhaçou os ruídos da expectativa.
Florbela
acabava de nascer.
O
meu belo presente de aniversário.
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