I
Oh”
Quem me dera ser samaritana,
ir
tirar água ao poço e mergulhar
cadências
virgens de alma puritana
que
me fizessem de prazer corar.
Sinto
um pé deslizar pela savana.
Vejo
um manto de linho a esvoaçar;
um
perfume de nardo que dimana
da
leveza de um lento caminhar.
Ah!
Na borda do poço se sentou.
Minha
vida de vícios desvendou
e
me deu a beber da sua água.
Meu
cântaro de barro se partiu;
de
lágrimas meu corpo se cobriu
e
contigo, Senhor, a minha mágoa.
II
Tornei
ao poço. Quis voltar a vê-lo,
esse
Homem que me disse tudo quanto
vira
nefasto em mim…e era tanto
que
me crispei de dor como um novelo.
Não
sei se desespero se me encanto
com
seu olhar profundo de desvelo.
Sonho
enxugar seus pés no meu cabelo
e
incensar de amor todo este espanto.
Da
minha culpa me despiste agora.
Por
que me dizes ser chegada a hora?
Por
que neste lugar estou sem Ti?
Porque,
mulher, não sabes? Morrerei
por
todo o mundo que não segue a lei
do
mesmo amor que, em ti, enalteci.
III
Deixa-me
estar Contigo! Ir após Ti!
Tomar
a Tua cruz em Teu lugar…
Dar-Te
a certeza de que sempre aqui,
água
do Teu cantil virei buscar.
Tão
límpida, tão pura, a borbotar,
mais
rutilante do que um rubi,
mais
confortante do que um samovar
donde
afagos de sândalo colhi.
Vinde
comigo todos! Vinde e vede
que
algo em mim fez brotar e maravilha
como
extinguiu de um gesto a minha sede.
Eis-me
no limiar da outra milha…
Que
espada fulgurante em Sua rede,
que
em pedaços deixou a minha bilha!
IV
Samaritana
eu sou! E ao meio-dia,
vou
tirar água ao poço de Jacó.
Ninguém
me espreita atrás da gelosia.
Ninguém
se espanta por que venho só.
Não
quero, não, saber de companhia
desde
que alguém, mordido pelo pó,
no
poço se sentou e me sorria
e
no meu peito desatava o nó.
Bebo
as palavras de sabor intenso.
Lavo
os meus olhos na água cristalina.
Desbasto
o joio no meu vale imenso
E
pergunto o que tem, que me domina
meu
corpo brando, Seu perfume a incenso
que
me torna tão grande…e pequenina.
SULAMITA
– MULHER DE SULEM
Vem
esta noite ver-me, ó meu amado!
Vem
esta noite envolto na penumbra.
Teu
vulto ardente, lesto e perfumado,
meu
coração, de longe, já vislumbra.
Já
maré baixa tem o mar salgado.
Tua
galera encostou na areia.
Silêncio!
Dorme todo o povoado,
como
abelhas nos favos da colmeia.
Oh!
Como vibrarei, tranquila e doce,
repousada
a cabeça no teu peito,
eu
vejo o sol na noite que te trouxe.
Em
matizes me inspiro e me deleito
neste
sabor a mel, como se fosse
uma
prega da colcha do teu leito.
INFINITO
Neste
espaço que habito em turbilhão
e
me obriga a torcer, chorar, gemer,
só
o beijo do sol, a imensidão
afaga
a minha ira de mulher.
Viver
para morrer, eis a questão.
Ando
por todo o lado sem saber
o
rumo, o infinito, o coração
das
trevas ofegantes. Ser, não ser.
E
a duvida se instala por meu mal
no
inferno do meu desassossego,
na
tremura da minha voz exangue.
Que
verdade procuro eu afinal?
Para
quê ter à terra tanto apego,
se
vivo em universos no meu sangue?
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