Cântico da Compaixão
A
dor me brindou,
em
gritos se transformou
e
em mil dores se consagrou.
para
me vestir de branco
e
me cingir de púrpura
pela
fenda de mil punhais,
mil
perfídias, mil insídias,
mordaça
de vãs ternuras
Na
fronte me colocou
um
diadema de espinhos.
Meus
olhos viraram fontes,
água
infinita lavando
as
chagas da minha mão.
Ei-lo
que vem passo a passo,
ardiloso,
sorrateiro,
beijo
de Judas trazendo
Getsémani
de mil mortes
que
em mil quedas se anuncia
e
da tua face se despede,
ímpio de alma vidrada
em troca de trinta dinheiros.
As
árvores gemem silêncios,
já
não contemplo as estrelas.
O
mar murmura lamentos,
todos
sabem menos eu
que
a morte vem por um beijo.
Ai,
Getsémani, Getsémani!
Foram
palavras de mel
e
carícias de veludo,
o
sol parecia sorrir,
vazando
sal sobre as veias.
O
sangue brotou, ardeu.
Vais
esgotar este cálice,
tropeçando
nos teus passos.
Olhai-o,
vede que vem
com
a oferta da morte.
Senhor,
toma o meu lugar
que
eu não suporto a traição
nem
quero ressuscitar.
Caída,
mordi o pó,
ai,
Getsémani, Getsémani!
Com
um beijo me entregaste
aos meus inimigos, ai.
o
lado me trespassaste.
Perdida,
Senhor, perdida,
quem tanto esplendor conhece
a quem não soube o que fez…
Noites
descem sobre mim,
estendem colchas de orvalho.
Ninguém
me toque, ninguém,
que o sino dobra a finados.
Mil
querubins, violinos,
miragens e desvarios,
estilhaçam gargalhadas,
ai
pobre de ti, coitado,
que
me vendeste ao Sinédrio.
Rostos
de mulheres escuras,
seus
mundos de riso e escárnio,
mentira,
roubo e loucura
de
vinho e suicídio
mas
nada podem, já não.
Já
nada podem. Oh! Não!
Sabem-no
as horas do tempo,
o
espaço eterno, liberto
sobre
o meu ser transformado.
O
Amor se esfrangalhou,
só
ele, Deus, ressuscitou,
o
resto… foi consumado.
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