Aurora Tondela
Eu sei, eu sei. Não é preciso
enxotarem-me. Reconheço que vos deixo mais pobres do que quando comecei mas a
culpa não foi minha. Peçam antes satisfações a quem encheu as algibeiras e se
esteve nas tintas para os menos protegidos.
Devagar, credo! Não me dêem
pontapés. Eu já identifiquei o caminho da saída. Mas se acreditais que esse
parceiro que entrou vai fazer melhor do que eu, enganem-se redondamente.
Desiludido estou eu convosco. Só
fazeis asneiras; só cometeis erros; não vos esforçastes para obter melhor
situação nem me ajudastes a expulsar os que de vós se serviram para alcançar o
poleiro, arrotando de prazer.
Desiludido vou eu por esta luta
inglória em que os mais economicamente débeis, vêem os seus horizontes cada vez
mais escurecidos.
Sei muito bem que tudo vai mal
neste país. Mas eu lavo daí as minhas mãos. O que pude, fiz. Mal, pouco, mas
fiz. O que não pude fazer, não me deixaram.
Enquanto os portugueses forem na
onda, seguirem a lei do menor esforço, bloquearem as suas mentes e não
impuserem os seus direitos, não há remédio que os salve.
Está na cara o que devia ser
feito mas união é virtude que eles não respeitam porque adoram ser
individualistas.
Por isso, os textos que aí ficam,
escritos em datas diversas, focam todos a mesma carente surpresa de um ano que
se vai, a toque de caixa, sem deixar saudades e de um outro que se lhe segue,
pleno de ideais e de esperança mas cujo resultado é uma tristeza.
Continuai a viver de esperança,
que esta lebre está corrida.
Quanto ao meu colega 2013… com a
sua inexperiência, a argúcia dos que mandam e a credulidade dos que deles
esperam alguma coisa de produtivo… puf!...
Faço votos para que a história se
não repita. Mas se não fizerdes, exigirdes mudanças radicais, irradiando os
parasitas, os galifões, os oportunistas e outros que tais que nada percebem de
gerência, bem podeis limpar as mãos à parede.
Já que não sabeis honrar as
minhas barbas envelhecidas por tanta canseira e bater na mesma tecla, estimulai
esse pobre coitado, que aparece sem saber da missa, a metade e que não conta
com o fenomenal balde de água fria, despejado nos seus bons propósitos.
Bem, adeus… Isso, isso, fartem-se
de mim, exibam essa expressão de fastio.
Nem reparam que saio de mãos a abanar.
Sabem o que vos falta? Eu digo: uma boa dose de inteligência, de coragem, de
determinação. e de discernimento. E não vão atrás de futebóis, jantaradas,
arraiais, pândegas. Fazem-me lembrar os tempos da Roma bárbara em que se dava
carne, vinho e espetáculos para manter o povo calmo. Só que hoje, vós é que
pagais a panaceia das comezainas e folclore com os vossos magros cêntimos.
Pronto. Acabei e não disse tudo.
Apenas pergunto: Quem olhará por vós, senão vós próprios? ”Fiem-se na Virgem e
não corram; vereis a praga que levam”. Ah! Ah! Ah!
Assinado 2012
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