terça-feira, 22 de maio de 2012

No Templo da Alma - Reflexão I

(Foto retirada de www.TemplodeIsrael.com e montagem feita por Fogo de Santelmo)


Tenho muito o hábito de escolher um lugar calmo para analisar o quotidiano e sobretudo, as reacções das pessoas que me rodeiam.
Talvez porque pratique Meditação transcendental há vários anos e conviva com pessoas de diversas ideologias místicas e constate na vida real que tal prática não só desenvolve a inteligência como nos preenche de uma extraordinária acuidade, procuro seguir os princípios que norteiam este comportamento e a vitória é sempre minha. Hoje inicio aqui uma primeira interiorização comigo mesma, uma espécie de integração harmoniosa com o universo, mais um ensaio crítico do que me fazem sofrer, uma espécie de “encontro com Deus”. DEUS é o meu TODO magnífico. E vejo-O para onde quer que olhe. É evidente que as pessoas menos justas, menos condoídas, menos compreensivas, menos calmas, ofuscam a luminosidade de Deus ao perturbar a nossa harmonia íntima, os nossos desejos de auxílio perante o próximo desamparado, contribuem, sem o pensar, para a sua própria inferioridade espiritual.
Como vos disse, hoje é o dia da minha primeira “conversa” com Deus, aqui, neste recanto.
O templo da minha alma não é como uma igreja ou santuário, decorados com estatuetas.
É, sim, um local que eu imagino conforme a minha motivação.
Podeis entrar comigo. Deixo a porta entreaberta.


Reflexão I


Todos os dias, através das notas sincopadas da natureza, o Criador vem ao meu encontro. O ideal, porém, é que seja eu a marcar encontro com Ele. E faça reserva para o dia seguinte. Será que tenho coragem? Será que posso manifestar-lhe uma vontade equilibrada e desejo absoluto da sua companhia? De que quilate é a minha aproximação junto do Senhor? De que forma o tranquiliza a minha presença? Como devo expressar aquele anseio desesperado de não deixar nada por dizer?

O lugar do nosso encontro não é um qualquer Define-se pelo recanto mais profundo do meu coração. No entanto, não me eximo a escolher a bela e harmoniosa paisagem telúrica como elemento isolador da nossa cumplicidade e o ingrediente que facilita a descoberta recíproca da verdade de cada um de nós.

Contemplar um horizonte ou os arabescos de uma concha de molusco é como franquear a entrada para o diálogo. Todo o meu ser vibra e o meu espírito se liberta. No invólucro dos meus sentimentos onde abrigo o que Ele É e eu penso que SEJA, penetra a luz cromada da Sua voz, enquanto o exterior se inunda de reflexos que denunciam os reflexos e os sons do meu habitat interior. Então o meu pensamento rejuvenesce e os vapores da memória tétrica se desvanecem, esmaltando doces imagens de vocábulos, gestos, segredos, ofertas conciliábulos, permutas. As palavras de Deus vêm por estas revelações.

Quer por um sussurro de riacho, quer pelo estilhaçar da onda contra o rochedo, quer pelo raio de sol infiltrado no corpo de um besouro ou pela noite recamada de estrelas, beijo branco de borboleta ou floco de neve, quer ainda - que sei eu? - pelo fluxo e refluxo das marés da minha vida, que me deixam impressões de uma melancolia nostálgica,  indescritível, eu vejo a presença do Grande Mestre antes mesmo de a solicitar e me regozijo por a reconhecer nos sinais que parecem insignificantes como, por exemplo, um punhado de areia  escorrendo entre os meus dedos.

Ante o poder persuasivo do meu Criador, não perco a minha identidade, não estou só. Ele está comigo. Não me rejeita. Não decepa abruptamente a raiz das minhas afeições. Sou uma planta do seu jardim tratada com particular desvelo, como só Ele sabe cuidar. Eu apenas sei que o meu Criador é um jardineiro zeloso e só cultiva espécies raras.

Continuo a meditar. O meu estado subconsciente de serenidade depende da minha capacidade de adaptação à Sua ordem; não distorcer o caminho com falsos pretextos.

O meu encontro com Deus não tem nada de patético nem de perplexidade, confusão ou desapontamento. Não amarfanha ideias. É a própria transparência. E a instala na criatura indefesa que eu sou. Ele não quer esta lágrima beligerante no canto do meu olho mas não se importa que eu chore de alegria porque esta é o orvalho das nossas manhãs.

O registo das minhas emotividades está nas Suas mãos. - pensei.
Afinal o que haverá de inútil na existência de uma pessoa? - inquiri ainda.

Um eco, um cicio de aragem na atmosfera com musicalidades de trinado… vagarosamente… e sem que alguém me responda que não há homens maus, que nada acontece por acaso e que todos os actos são julgados não pela nossa justiça mas por uma outra que nos ultrapassa, implacável, pois nada pode contrariar a ordem universal.

- Quando alguma coisa te parecer despropositada ou maligna mas nela encontrares utilidade, estás no princípio da tua maturidade.- murmurei, como se carregasse uma bateria.
Percebi que podia reiniciar a travessia e que no labirinto de incompreensão e egoísmo humanos, havia fundamento para um antídoto de desanuviamento espiritual, com base no desapego das superficialidades, artifícios e entrega pura e simples à verdade incontestada de Deus perante a qual todas as certezas dos homens não passam de ambiguidades.
Neste mistério que nos envolve, resta-nos prosseguir em busca do oásis que sempre existe no deserto da nossa vida.

2 comentários:

  1. Esta reflexão é fabulosa.
    Gostaria de ter também esta força de Fé.
    Sinto que acredito que assim é, como diz a reflexão, mas a tendência é sempre colocar um "MAS".
    Como fazer para mudar?
    Como contrariar este "mas" que teima em aparecer?
    Ando à procura, com a impressão de que não sei bem o que procuro.
    Obrigada mamã por esta reflexão.

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    1. Na legião de hábitos a que somos forçados no decurso da nossa existência, não fazemos prevalecer o hábito do pensamento positivo. As filosofias nos ensinam que “quem se inclina para o mal, atrai outro mal”, assim diz a máxima latina: abissus abysum. Os japoneses têm por princípio que “atrás de uma coisa má, vem uma coisa boa”.
      Se tivéssemos o hábito de contrapor uma imagem alegre, pacífica, a uma, de cor negra, aceitaríamos as contrariedades como um momento necessário à construção de algo que nos seja útil.
      Deixamo-nos mais depressa soçobrar perante o mal que nos erguer em face de algo bom ou bonito.
      Somos mais permeáveis a condenar do que a elogiar e, no entanto, não ignoramos que todos temos defeitos e virtudes.
      O “mas” é um diabinho insuportável, fruto da nossa insatisfação e dúvida. Estas não são perniciosas. Ajudam-nos na busca da verdade. Nunca deverão inspirar-nos o pessimismo ou a desilusão.
      Creio que todos temos uma “força interior”. Fomos criados “À imagem e semelhança dessa força”.
      E afinal, o que fazemos?
      Respondo-te com Reflexão II.

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