(Foto retirada de www.TemplodeIsrael.com e montagem feita por Fogo de Santelmo)
Tenho muito o hábito de
escolher um lugar calmo para analisar o quotidiano e sobretudo, as reacções das
pessoas que me rodeiam.
Talvez porque pratique Meditação transcendental há vários anos e conviva com pessoas de
diversas ideologias místicas e constate na vida real que tal prática não só
desenvolve a inteligência como nos preenche de uma extraordinária acuidade,
procuro seguir os princípios que norteiam este comportamento e a vitória é
sempre minha. Hoje inicio aqui uma primeira interiorização comigo mesma, uma
espécie de integração harmoniosa com o universo, mais um ensaio crítico do que
me fazem sofrer, uma espécie de “encontro com Deus”. DEUS é o meu TODO
magnífico. E vejo-O para onde quer que olhe. É evidente que as pessoas menos justas,
menos condoídas, menos compreensivas, menos calmas, ofuscam a luminosidade de
Deus ao perturbar a nossa harmonia íntima, os nossos desejos de auxílio perante
o próximo desamparado, contribuem, sem o pensar, para a sua própria
inferioridade espiritual.
Como vos disse, hoje é o
dia da minha primeira “conversa” com Deus, aqui, neste recanto.
O templo da minha alma não
é como uma igreja ou santuário, decorados com estatuetas.
É, sim, um local que eu
imagino conforme a minha motivação.
Podeis entrar comigo. Deixo
a porta entreaberta.
Reflexão I
Todos os dias, através das
notas sincopadas da natureza, o Criador vem ao meu encontro. O ideal, porém, é
que seja eu a marcar encontro com Ele. E faça reserva para o dia seguinte. Será
que tenho coragem? Será que posso manifestar-lhe uma vontade equilibrada e
desejo absoluto da sua companhia? De que quilate é a minha aproximação junto do
Senhor? De que forma o tranquiliza a minha presença? Como devo expressar aquele
anseio desesperado de não deixar nada por dizer?
O lugar do nosso encontro
não é um qualquer Define-se pelo recanto mais profundo do meu coração. No
entanto, não me eximo a escolher a bela e harmoniosa paisagem telúrica como
elemento isolador da nossa cumplicidade e o ingrediente que facilita a descoberta
recíproca da verdade de cada um de nós.
Contemplar um horizonte ou
os arabescos de uma concha de molusco é como franquear a entrada para o
diálogo. Todo o meu ser vibra e o meu espírito se liberta. No invólucro dos
meus sentimentos onde abrigo o que Ele É e eu penso que SEJA, penetra a luz
cromada da Sua voz, enquanto o exterior se inunda de reflexos que denunciam os
reflexos e os sons do meu habitat interior. Então o meu pensamento rejuvenesce
e os vapores da memória tétrica se desvanecem, esmaltando doces imagens de
vocábulos, gestos, segredos, ofertas conciliábulos, permutas. As palavras de
Deus vêm por estas revelações.
Quer por um sussurro de
riacho, quer pelo estilhaçar da onda contra o rochedo, quer pelo raio de sol
infiltrado no corpo de um besouro ou pela noite recamada de estrelas, beijo
branco de borboleta ou floco de neve, quer ainda - que sei eu? - pelo fluxo e
refluxo das marés da minha vida, que me deixam impressões de uma melancolia
nostálgica, indescritível, eu vejo a
presença do Grande Mestre antes mesmo de a solicitar e me regozijo por a
reconhecer nos sinais que parecem insignificantes como, por exemplo, um punhado
de areia escorrendo entre os meus dedos.
Ante o poder persuasivo do
meu Criador, não perco a minha identidade, não estou só. Ele está comigo. Não
me rejeita. Não decepa abruptamente a raiz das minhas afeições. Sou uma planta
do seu jardim tratada com particular desvelo, como só Ele sabe cuidar. Eu
apenas sei que o meu Criador é um jardineiro zeloso e só cultiva espécies
raras.
Continuo a meditar. O meu
estado subconsciente de serenidade depende da minha capacidade de adaptação à
Sua ordem; não distorcer o caminho com falsos pretextos.
O meu encontro com Deus não
tem nada de patético nem de perplexidade, confusão ou desapontamento. Não
amarfanha ideias. É a própria transparência. E a instala na criatura indefesa
que eu sou. Ele não quer esta lágrima beligerante no canto do meu olho mas não
se importa que eu chore de alegria porque esta é o orvalho das nossas manhãs.
O registo das minhas
emotividades está nas Suas mãos. - pensei.
Afinal o que haverá de
inútil na existência de uma pessoa? - inquiri ainda.
Um eco, um cicio de aragem
na atmosfera com musicalidades de trinado… vagarosamente… e sem que alguém me
responda que não há homens maus, que nada acontece por acaso e que todos os
actos são julgados não pela nossa justiça mas por uma outra que nos ultrapassa,
implacável, pois nada pode contrariar a ordem universal.
- Quando alguma coisa te
parecer despropositada ou maligna mas nela encontrares utilidade, estás no
princípio da tua maturidade.- murmurei, como se carregasse uma bateria.
Percebi que podia reiniciar
a travessia e que no labirinto de incompreensão e egoísmo humanos, havia
fundamento para um antídoto de desanuviamento espiritual, com base no desapego
das superficialidades, artifícios e entrega pura e simples à verdade
incontestada de Deus perante a qual todas as certezas dos homens não passam de ambiguidades.
Neste mistério que nos
envolve, resta-nos prosseguir em busca do oásis que sempre existe no deserto da
nossa vida.
Esta reflexão é fabulosa.
ResponderEliminarGostaria de ter também esta força de Fé.
Sinto que acredito que assim é, como diz a reflexão, mas a tendência é sempre colocar um "MAS".
Como fazer para mudar?
Como contrariar este "mas" que teima em aparecer?
Ando à procura, com a impressão de que não sei bem o que procuro.
Obrigada mamã por esta reflexão.
Na legião de hábitos a que somos forçados no decurso da nossa existência, não fazemos prevalecer o hábito do pensamento positivo. As filosofias nos ensinam que “quem se inclina para o mal, atrai outro mal”, assim diz a máxima latina: abissus abysum. Os japoneses têm por princípio que “atrás de uma coisa má, vem uma coisa boa”.
EliminarSe tivéssemos o hábito de contrapor uma imagem alegre, pacífica, a uma, de cor negra, aceitaríamos as contrariedades como um momento necessário à construção de algo que nos seja útil.
Deixamo-nos mais depressa soçobrar perante o mal que nos erguer em face de algo bom ou bonito.
Somos mais permeáveis a condenar do que a elogiar e, no entanto, não ignoramos que todos temos defeitos e virtudes.
O “mas” é um diabinho insuportável, fruto da nossa insatisfação e dúvida. Estas não são perniciosas. Ajudam-nos na busca da verdade. Nunca deverão inspirar-nos o pessimismo ou a desilusão.
Creio que todos temos uma “força interior”. Fomos criados “À imagem e semelhança dessa força”.
E afinal, o que fazemos?
Respondo-te com Reflexão II.